Que está complicado, está. Além do atraso nas obras e do orçamento mal calculado que torna as despesas da Copa cada vez maiores, surgiu agora um problema complicadíssimo, que envolve inclusive a soberania do país.
Não conheço em detalhes os acordos firmados entre a Fifa e o Brasil. Acredito que sejam os de rotina, mas todos sabemos que a goela da instituição que regula o futebol é voraz, não deixa pedra sobre pedra.
Houve tempo (não sei se ainda é) em que a Fifa tinha mais membros do que a ONU. É poderosa politicamente e rica o bastante para impor condições. Supõe-se que sejam condições técnicas, de infraestrutura, operacionais. Acontece que cada país -no caso, o Brasil, sendo como é, uma República Federativa- é composto por Estados cujas leis locais devem ser cumpridas.
Pelo que se sabe, a cúpula da instituição não deseja abrir mão das rendas de cada jogo e não aprova que idosos e estudantes possam comprar ingressos por preço inferior ao oficial. Não parece, mas o assunto chegou a ser discutido com a própria Dilma em seu giro pela Europa. Evidente que a nossa presidente invocou a soberania nacional. Mesmo assim, a questão ficou para ser acertada em encontros posteriores.
Sabe-se também que a Fifa está preocupada com o organograma das obras e pode criar tais e tantas exigências, as quais, no limite, darão pretexto a um cancelamento da Copa de 2014 no Brasil.
Oficialmente, nada foi feito até agora, mas há correntes dentro da instituição que já ameaçaram um rompimento do contrato desde que suas pretensões não sejam atendidas.
Que as obras da Copa estão atrasadas e mal programadas, estão. Mas o Brasil é Ph.D em matéria de fazer certos milagres. O que não pode é submeter sua legislação aos interesses dos cartolas que mandam e desmandam no futebol.
Folha de São Paulo, 6/10/2011