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Gosto de falar do que me agrada

 

De um encontro de duas amigas, Ruth Niskier e Fernanda Moraes Londres, nasceu a excelente ideia de prestar homenagem a um dos vultos mais proeminentes da Academia Brasileira de Letras, o escritor Rodrigo Octávio (filho), que viveu entre 1892 e 1969. Ele e seu pai, este fundador da Casa Machado de Assis, honraram as nossas letras, com obras que merecem ser sempre lembradas.

Em cerimônia simples, a que compareceram familiares do escritor, o seu neto, Rodrigo Otávio Londres, em comovente oração, entregou ao Centro de Memória da ABL uma série de documentos pertencentes ao cuidadoso avô, incluindo a carteira de sócio do Fluminense F.C., o que agradou imensamente ao presidente Marcos Vilaça, ele também tricolor de coração.

Vieram ainda carteiras da Aliança Francesa, a que ele se dedicou durante 13 anos, outra do MAM, e uma caderneta de viagem ao Rio Grande do Sul, em 1928, para presenciar a posse de Getúlio Vargas como presidente daquele Estado. Nas suas diversas agendas, havia o registro do endereço da Academia, a que ele serviu com muito desvelo. E uma curiosidade: o cartão de ingresso na Exposição Internacional de 1922, realizada no prédio que depois seria cedido para sempre pelo governo da França para que ali a ABL instalasse a sua sede definitiva. É o prestigiado Petit Trianon, de tantas glórias.

Como afirmou o neto Rodrigo Otávio Londres, o escritor que se assinava "ROF" foi um poeta envolto no simbolismo e no penumbrismo da sua "Alameda Noturna", considerando os seus escritos como "bissextos". Foi poeta, ensaísta, conferencista, advogado e fundou com o pai a Revista Jurídica. Entre suas obras, podemos citar: Fundo de Gaveta, O poeta Mário Pederneiras, A vida amorosa de Liszt, Velhos amigos, Figuras do Império e da República, Inglês de Souza, O Infante D. Henrique, entre outras.

ROF não foi apenas o grande intelectual que ocupou durante 25 anos a cadeira n° 35 da ABL. Foi pioneiro das telecomunicações, fundando em 1921 a Radiobrás, depois transformada na Embratel. Sobre a sua personalidade, vale recordar o que dele disse o também acadêmico e historiador Américo Jacobina Lacombe:"... ele não forçava ninguém a recuar, nem prejudicava os direitos dos capazes, e nem jamais perdeu a capacidade de admirar, sem invejar! De estimar, sem enganar; de estimular, sem temer a concorrência; de cooperar, sem humilhar; de animar, sem lisonjear..."

Diante dos seus familiares e muitos imortais, o neto Rodrigo lembrou comovido, o texto "Confissão", abertura do livro póstumo "Simbolismo e Penumbrismo": "O que eu gosto é de falar do que me agrada. Procuro apenas o lado bonito, o lado bom da vida. Não falo mal dos outros, nem dos livros que escreveram, nem do mal que me fizeram.

Só leio o que me interessa, ensina ou consola. Costumo dizer que para não ver uma mulher feia basta não olhar... As outras passam em revoada pela nossa lembrança... Assim aconteceu com os livros que li e com as criaturas do meu convívio."

Jornal do Commercio (RJ), 16/9/2011