Ao falar em São João de Meriti, num seminário promovido pelo Agora-Sistema de Ensino, o professor José Arnaldo Favaretto foi categórico, ao afirmar que “o futuro começa hoje”. Logo depois, na cidade capixaba de Aracruz, no Congresso Conhecer 2011, abordamos o tema Educação do Futuro, mostrando que nossas perspectivas dependem basicamente do que for possível construir na atual geração. Ou seja, temos que melhorar substancialmente a qualidade do ensino, em todos os graus, para que possamos almejar um futuro de mais conforto para os nossos filhos e netos.
Cientificamente, sabemos que não são fáceis os exercícios de futurologia, sobretudo quando estão em causa nações em desenvolvimento. Teremos, num curto espaço de tempo, dois eventos exponenciais: a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos de 2016. Estaremos preparados, inclusive do ponto de vista de recursos humanos, para enfrentar esses desafios?
A resposta nos leva a uma posição que poderá ser otimista. Tomando por base a realidade de 2009, infere-se que há boas perspectivas. Temos, no entanto, que melhorar os índices de atendimento à educação infantil (há mais de 20 milhões de brasileiros de até 6 anos, dos quais somente 6,3 milhões são atendidos de alguma forma); aperfeiçoar a qualidade do ensino fundamental, depois de alcançada a sua universalização (há 53 milhões de matrículas no ensino público); evitar os fenômenos de evasão e repetência no ensino médio, onde temos 7,2 milhões de estudantes, e valorizar a vertente profissionalizante, uma obrigação dos poderes públicos, com a devida colaboração da iniciativa privada; ampliar as oportunidades, sobretudo em novas profissões (educação ambiental, tecnologia da informação, energias limpas), no ensino superior, dobrando o número dos atuais 5,8 milhões de alunos (temos 58 universidades federais e 86 universidades particulares); manter a excelência da pós-graduação, reconhecida internacionalmente como de boa qualidade. Isso terá influência decisiva na ampliação do número de cientistas brasileiros.
Para que tudo isso ocorra, o país deve se voltar, com firmeza, para a formação e o aperfeiçoamento de professores e especialistas, inclusive com a adoção criteriosa da modalidade de educação a distância, onde hoje temos mais de 1 milhão de estudantes. Esse número, para uma população estimada de 202 milhões de habitantes, em 2016, deverá ser quadruplicado, pois o sistema comporta esse crescimento.
A presidente Dilma Roussef anunciou que será ministrado ensino técnico a 3,5 milhões de trabalhadores brasileiros até o ano de 2014. A ideia é nobre e merece aplausos. Mas não se pode deixar de clamar pela prioridade absoluta: o professor. Se não houver professores bem preparados e devidamente estimulados, os esforços em prol da educação cairão no vazio, por absoluta falta de consistência.
A educação, com cerca de US$ 22 bilhões, tem o terceiro orçamento da República, investindo 5% do Produto Interno Bruto, atrás somente de Saúde e Defesa. Deveremos chegar a 7% do PIB, para que todos os planos e projetos sejam viabilizados, no prazo determinado. Assim será possível vencer um dos maiores obstáculos da educação brasileira, que é a remuneração do quadro do magistério. Temos cerca de 3 milhões de professores empregados (quase 500 mil no ensino superior), com a média salarial de US$ 500, o que é muito pouco.
Devemos valorizar a atuação dos professores e especialistas, não só aperfeiçoando os seus cursos de formação (providência urgente), como remunerando adequadamente esse serviço fundamental para os planos de crescimento do país.
Correio Braziliense, 10/9/2011