Peguei pelo meio um bom debate sobre a liberdade de expressão quando os cobras dos cobras falaram sobre o assunto, principalmente no que diz respeito à internet.
Gabeira, por exemplo, deu uma aula sobre os abusos que começam a poluir o grande meio de comunicação que a tecnologia nos trouxe.
Evidente que deixou clara a inevitabilidade da era digital, mas alertou para a tendência ao anonimato, ao insulto e, em especial, ao ódio. Grande parte do que rola na internet não é apenas liberdade de expressão, é expressão do ódio. Citou o exemplo de Chico Buarque, que pensava ser uma das unanimidades nacionais e, de acesso a acesso, ficou sabendo que há gente que o odeia pura e simplesmente porque ele é um sucesso.
Gabeira também falou do início da telefonia entre nós, quando era comum o trote telefônico, um pouco inocente ainda, mas que fazia alguns estragos com denúncias de adultérios, roubos, ameaças disso ou daquilo. Numa palavra: sequelas do barro humano do qual fomos feitos.
Não tenho certeza, mas acho que já contei a história que vou repetir. Os leitores que me perdoem, mas é tão boa e esclarecedora que merece repeteco. Além do mais, é uma piada politicamente incorreta, pois é dedicada aos nossos irmãos portugueses, que abastecem grande parte do anedotário nacional.
O Observatório Sísmico de Washington detectou que haveria uma grande movimentação de placas tectônicas que atingiria o sul da Europa, com sérias advertências sobre a possibilidade de um grande tremor de terra. Na linguagem cifrada das mensagens eletrônicas modernas, o texto foi o seguinte: "Abalo sísmico ameaça Portugal. Epicentro em Lisboa. Mandem notícias com urgência".
Passou uma semana, duas, e nenhuma notícia chegava a Washington. Houve reclamação, os técnicos precisavam saber o que havia acontecido para tomarem providências, até que, finalmente, veio a resposta: "Abalo sísmico completamente superado. Epicentro confessou tudo. Não mandamos notícias antes porque um puto terremoto botou tudo aqui de cabeça para baixo".
Pedindo desculpas mais uma vez pela piada, ouso lembrar que as comunicações estão fora da lei do mercado, ou seja, há mais oferta do que procura. E a oferta começa a preocupar governos que tentam controlar, de alguma maneira, o pensamento da sociedade. O que não chega a ser novidade. É possível que a era digital, que ainda está na era das cavernas, chegue um dia ao ponto de conciliar expressão e liberdade, tudo é possível.
A moda até que passou ou diminuiu, mas nos primeiros tempos em que eu acessava e-mails, era impressionante o número de mensagens que recebia para aumentar o tamanho do meu pênis.
Se fosse seguir os conselhos, precisaria de um carrinho de mão para transportar o cujo, que, mesmo não sendo excepcional, tem dado para o gasto, e não se deve mexer em time que está ganhando.
Ruy Castro outro dia declarou guerra aos celulares, uma das pragas do Egito que Moisés esqueceu de colocar na Bíblia, em gentil companhia dos gafanhotos. Eu até que preferiria os gafanhotos, pois não cultivo lavoura que possa ser devastada. Mas tenho ouvidos. Em recente voo internacional, na classe executiva, o destino brindou-me com um companheiro que era alguma coisa do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Primeiramente, ele ligou para a mulher comunicando que estava sentado na poltrona A3 e que havia esquecido de trazer um determinado remédio. Depois, comunicou a alguém que a porta da cabine estava sendo fechada e o avião ia decolar.
Ligou a telinha individual para assistir a um filme, telefonou novamente para a mulher dizendo que era um longa que já haviam visto; a mulher parece que não entendeu direito e quis detalhes: o sujeito contou o enredo. O filme era com Jerry Lewis.
Serviram o jantar. O sujeito consultou uma agenda e ligou para um médico perguntando se podia comer um creme de lagosta que seria a principal entrada; o médico quis saber a última taxa de colesterol que ele havia feito, o que obrigou o sujeito a ligar novamente para a mulher. Ela não sabia. Mas quis saber o que estava acontecendo com Jerry Lewis.
Folha de São PauPaulo, 2/9 /2011