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Metástase

 

A imagem é mais do que sovada: de tanta corrupção que funciona como um câncer no organismo da nação, penetramos naquele estágio quase terminal da metástase. Não é um órgão, o baço, o fígado, o pulmão, o seio ou a pele que contraíram o tumor maligno: ele se espalhou e sua cura é cada vez mais problemática -se é que há cura radical para isso.

Dona Dilma deu azar. Geralmente no período que é considerado como a lua de mel do governante sempre aparecem problemas, alguns graves, mas a corrupção só começa a fazer estragos letais da metade para o fim do mandato.

Bem preparada, movida por ótimas intenções e lubrificada por apoios consideráveis, Dilma possui todas as condições para executar o seu programa de governo, alguns dos quais estão se iniciando, mas de forma confusa.

Numa reunião com a cúpula do governo, propõe e recebe propostas para erradicar a miséria, mas o telefone toca: alguém a avisa que o secretário-executivo de tal ministério está sendo preso pela polícia por alta corrupção. A ela só compete, inicialmente, pedir que não usem algemas, até que tudo seja apurado.

A erradicação da miséria no país se transforma na erradicação das algemas. A reunião acaba brutalmente, cada qual vai examinar a própria consciência para ver se poderá ser o próximo.

A mídia e a internet estão congestionadas de mensagens e protestos contra a calamidade. Mas é pouco. Pensando nisso, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) está propondo marchas populares nas principais cidades, fazendo a voz das ruas chegar aos escalões responsáveis. Foi assim no caso do impeachment de Collor.

E foi justamente a ABI, dirigida na época por Barbosa Lima Sobrinho, ao lado de Lavenère-Wanderley, então presidente da OAB, que botaram os caras-pintadas nas ruas.

Todos sabemos o resultado.

Folha de São Paulo, 21/8/2011