Que está complicado, está. Com poucos meses no poder, o atual governo dá a impressão de que não sabe o que está fazendo em Brasília. Justamente neste arranco inicial, quando é habitual a lua de mel dos novos mandatários, a coisa parece embananada, e pior do que embananada, suspeita de complicações maiores.
Os leitores deste jornal estão suficientemente abastecidos com os textos aqui publicados sobre o assunto; tirante os meus, são dos melhores e mais oportunos que eu tenho lido recentemente.
Não dá para entender que a turma do Planalto, com o reforço substancial de Lula, culpe a oposição e a imprensa pela crise. Até agora ninguém falou seriamente em CPI, ou em renúncia.
Para sanar (ou sanear) a crise, bastaria um ato elementar do ministro Palocci ou da própria presidente Dilma.
Já foi lembrado o exemplo de Itamar Franco, cujo braço direito teve problemas e foi afastado do cargo. Tão logo o problema recebeu os esclarecimentos de praxe, Henrique Hargreaves reassumiu seu posto.
Bem verdade que a crise atual, se tem em Antonio Palocci seu núcleo principal, transcende de muito a questão da conta bancária do chefe da Casa Civil.
Dona Dilma apresentou-se ao eleitorado como uma estupenda gerente das coisas públicas, embora nunca tenha exercido um cargo essencialmente político, como é a chefia de um posto executivo federal, estadual ou municipal.
Sua face gerencial ainda não foi suficientemente testada, mas a Presidência da República, em regime presidencialista, como é o nosso, gravita e opera no setor político, incluindo não apenas os grandes lances da sociedade como um todo, mas até as questiúnculas menores que vão surgindo no dia a dia da administração. E a súbita conta bancária de um ministro não chega a ser uma questiúncula menor.
Folha de São Paulo, 29/5/2011