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Um homem

 

Para falar a verdade, nem sei a que partido o vice-presidente José Alencar pertence. Apesar de possuir uma biografia de sucesso empresarial, só tomei conhecimento de Sua Excelência quando compôs chapa com Lula no primeiro mandato. Apreciei algumas de suas declarações, mas não cheguei ao ponto de admirá-lo.

Nos últimos anos, sim, passei não apenas à admiração, mas ao carinho. Embora não o conheça pessoalmente, estou torcendo para que tudo dê certo no seu tratamento -e desde já todos devemos a ele um exemplo de como enfrentar o maior desafio que o tempo e o destino colocam à frente de todos nós.

José Alencar é mineiro, mineiro de Ubá, terra de Ary Barroso, do Antônio Olinto, do Ferdy Carneiro e de outros amigos comuns. Não conheço em detalhes sua carreira política, mas como vice-presidente tem dado o recado da discrição que o cargo exige. Mas não é por aí que passei a gostar dele.

É impressionante como mantém seu sorriso, como se apresenta a cada saída dos hospitais onde se interna. Os especialistas são unânimes em ressaltar a importância do alto-astral no tratamento de uma moléstia que costuma derrubar física e moralmente os seus portadores.

Para esses, sobretudo, o comportamento de José Alencar é um dos melhores exemplos de como devem se portar os atingidos pela doença. Ele continua na ativa, não sentou no meio-fio para chorar o leite derramado. É um vice-presidente. Mas não é um vice-homem. É um homem em pleno exercício de sua condição humana.

PS - Reproduzo crônica publicada em 24 de janeiro de 2008. Nesse mesmo dia, José Alencar me telefonou, falamos de amigos comuns e, num longo bate-papo, descobrimos que, em algum tempo e território, fomos companheiros de infância.

Folha de São Paulo, 31/3/2011