A visita de Obama fez-se no melhor contraponto entre o fascínio pela personalidade e o anticlímax da mensagem.
Todos os discursos, na voz e na retórica de todo sucesso, manteve-se fiel a um protocolo imune a toda interação com a expectativa brasileira.
Fixamo-nos, por outro lado, nesta quase obsessão de identificar o novo protagonismo nacional à outorga de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança.
Não capitalizamos ainda sobre esta nossa nova presença no mundo dos BRICs e, aí, nos destacamos, por inteiro, dos subprotagonismos latino-americanos.
Somamo-nos ainda à China, à Índia ou à Rússia, no novo quadro internacional sem hegemonias, consoante uma visão não-ocidental do avanço dos próximos anos.
A Índia, neste particular, soma-se ao Brasil na expectativa de reconhecimento deuma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. E foi com a mesma prudência que, em Nova Delhi, ou em Brasília, Obama se referiu à prévia mudança de toda esta mecânica das Nações Unidas.
Na sequência dos discursos, Obama surgiu mais como um promotor de negócios possíveis na lista bem amarrada dos interesses do grande capital, e só reiterou a crença no modelo liberal nas nossas relações econômicas. Claro, e também no seu aplomb em mostrar o conhecimento da nossa história, ou da nossa temática popular, referiu-se à construção de Brasília, ao desassombro de Juscelino e à palavra profética de 1873, de dom Bosco, a que chamou de “nosso santo padroeiro”, profetizando a construção da capital nos sertões do país. Não faltaram, no Rio, as referências ao futebol, ao Vasco e ao Botafogo, jogando à hora do discurso no Municipal.
A fala do Rio contrapunhase, nas grades da Cinelândia, ao protesto obsoleto de uma esquerda fóssil com os slogans de um cansado antiamericanismo. Os acordos,ou as tensões de agora, ganharam como cenário a presença militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, e na decisão agônica tomada por Obama, em Brasília.
Desfechou-se, num divisor de águas, entre Robert Gates e Hillary Clinton, contra e pró a eventualidade de reproduzirse, na Líbia, o intervencionismo ocidental no mundo árabe. E até onde contrasta, na visão de Washington, nossa política externa, de presença brasileira, na área, ao sustentar a audiência internacional do Irã na ONU e a gravidade da iniciativa, na Líbia, de parte de uma comunidade que radicaliza o confronto ocidental com o mundo islâmico.
A Liga Árabe já se dissolidariza da reunião de Paris, e condena o nível de intervenção militar de franceses, ingleses e canadenses no território líbio.
Independe de cadeiras fixas no Conselho o papel que o Brasil venha a ter nos novos votos desse mesmo Conselho, evitando que a Líbia seja um novo Afeganistão ou um novo Iraque.Ou que, ao lado do combate às ditaduras, parta o mundo, a seu pretexto, para uma nova “guerra de religiões Obama surgiu mais como um promotor de negócios possíveis na lista bem amarrada dos interesses do grande capital, e só reiterou a crença no modelo liberal nas nossas relações econômicas.
Jornal do Commercio (RJ), 25/3/2011