Nada entendo de foguetes espaciais, o que não chega a ser vantagem, pois nada entendo de tudo. Fiquei sabendo que entre as causas possíveis de um desastre, uma delas seria a invasão casual ou proposital nos computadores que monitoram os complicados lançamentos.
Lembro a prisão de um rapaz gorducho, óculos fundo de garrafa, tipo que antigamente a gente chamava de "bolão do Vasco". O sujeito, mal saído da adolescência, criara um vírus que infectara milhões de computadores em todo o mundo.
Sempre me preocupei com a ideia de um botão que pudesse acabar não apenas com o mundo, mas com o universo inteiro. Alguma coisa parecida com aquela campainha que o personagem de Eça de Queiroz tocou e matou um mandarim na China, que a quilômetros de distância, vestido em sua túnica amarela, estava empinando um papagaio e caiu fulminado, deixando fabulosa fortuna para o obscuro funcionário de Lisboa.
No tempo de Eça, isso seria impossível. Mas agora, no meu tempo, é uma possibilidade que me fascina e angustia. Ninguém precisa temer que eu faça uma besteira dessas, não por virtude, mas por ignorância. Do mundo digital sei o básico, o suficiente para ler e escrever "vovô viu a uva".
Mas há gente que sabe mais do que isso e maníacos sempre deixaram rastros na história. As possibilidades da informática são infinitas e podem dar a um jovem despreparado o poder de bagunçar a rede de computadores em todo mundo.
Marconi iluminou a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, a bordo de seu iate. Usou as ondas de sua invenção, o rádio. Invertendo-se o polo de sua façanha tecnológica, um cara qualquer pode apagar não apenas a mesma estátua, mas tudo o que é luz, energia e vida.
Folha de São Paulo, 22/3/2011