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A grande pergunta

 

Já aconteceu diversas vezes. Convidam-me para uma palestra, oferecem-me um tema, providenciam hotel e passagens, os auditórios, uns pelos outros, ficam cheios de gente querendo saber coisas. Mal informada, acha que sei alguma coisa.

Semana passada o convite foi espantoso: falar sobre o fim do mundo. Preparei-me tecnicamente, pesquisei na internet, ouvi especialistas, consultei enciclopédias, li uns cinco livros de ficção científica sobre o assunto. Fiquei sabendo de coisas pasmosas. Uma galáxia está sugando a Via Láctea, da qual a Terra faz parte como planeta do Sistema Solar. A velocidade sideral é espantosa. Milhões de quilômetros por segundo e seremos tragados pela pérfida boca de um buraco negro que além de nos tragar, mais tarde se tragará a si mesma.

Fui ao quadro-negro, mostrei distâncias calculadas em anos-luz, citei Ptolomeu, Copérnico, Newton, Einstein e até Inri Cristo, aquele ex-bancário de Curitiba que se diz a encarnação de Jesus Cristo e nos ameaça com o fim dos tempos.

Falei na teoria dos quanta e no Apocalipse de São João. Evidente que descarreguei a culpa de tudo na camada de ozônio mutilada pelos detritos industriais da nossa civilização assassina.

Bateram palmas a tanta e tão vasta sabedoria. O mediador elogiou minha atuação com palavras emocionadas e declarou aberto o debate. Alguém desejava me questionar?
Lá de trás, a mão de um sujeito magro e barbado se ergueu. Tremi nas bases. Eu esgotara toda a minha sabedoria, um minuto a mais de palestra e revelaria a total ignorância sobre aquele e sobre todos os demais assuntos.

O rapaz foi estimulado pela plateia a expressar a dúvida que o inquietava. Preparei-me para o pior e ouvi a pergunta feita em tom ligeiramente irritado: "O quê Barack Obama vem fazer no Brasil?".

Folha de São Paulo, 20/3/2011