Pinço um trecho da crônica que o Artur Xexéo publicou ontem no jornal "O Globo": "Se estivéssemos no tempo em que se conhecia o Carnaval pela cobertura da revista "Manchete", certamente o King Kong seria um dos maiores destaques".
Lembrei imediatamente de uma frase do meu amigo, o editor Alfredo Machado, da Record: "O melhor Carnaval do mundo não é o do Rio, é o Carnaval da "Manchete".
Poucas vezes, na história da imprensa mundial, o binômio forma-conteúdo conseguiu expressão melhor e mais entusiástica.
A edição era disputada a tapa nas bancas, esgotava-se no final do dia com os preços de capa aumentados pelos próprios jornaleiros, que, para atrair fregueses, abriam as páginas duplas na vertical.
Era difícil resistir a Monique Evans, Luma de Oliveira, Roberta Close, escancaradas, em tamanho família, parecendo vivas e em cores, prometendo um miolo igual e até melhor. As grandes deusas das passarelas, as esculturais passistas que brilharam nas escolas de samba conservam em seus books, com carinho e saudade, a consagração do espaço daquela noite.
Quando foi inaugurada a TV em cores, temeu-se que os números do Carnaval perdessem o impacto visual e as edições diminuíssem a tiragem. Ledo e ivo engano! Aumentaram. Durante o resto da semana a gráfica imprimia mais exemplares.
Adolpho Bloch queria ir a Roma comigo, julgando-me entendido. Levei-o à catedral de São Pedro, que ele conhecia apenas de fora. Mostrei-lhe os mármores, a "Pietà" de Michelangelo, as obras de Bernini. Ele olhou aquilo tudo e, agarrando-me no braço para melhor transmitir o que estava pensando, me disse: "E se nós falássemos com o papa para fazer um baile de Carnaval aqui? Já imaginou que capa teríamos? Eu dividiria o lucro com ele".
Diário da Manhã (GO), 10/3/2011