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A severa lua de mel presidencial

 

Debruça-se, sôfrego, o País, sobre as diferenças entre os governos Dilma e Lula, ainda na lua de mel com o poder da presidente. Desponta o rigor com a premissa fundamental da distribuição de renda, expressa no valor do salário mínimo.
 
Não se deu conta a oposição da contundência da aprovação da importância de R$ 545,00 pela Câmara, mas, sobretudo, da passagem de todas as futuras fixações desse salário à decisão do Executivo. Eliminou-se o último poder de barganha congressual no que seja, daqui para diante, o montante que o Planalto queira emprestar a esses valores, sem desgastes demagógicos com o tucana-to, ou pressões sindicais. 

Surpreendeu a disciplina das novas maiorias parlamentares, nesse comparecimento dos 100% dos votos do PMDB, resultante da ação marcada de Michel Temer, a mostrar a modernização dos pactos de poder do novo situacionismo. E choca-se, sobretudo, nesse quadro, com a infidelidade do PDT, possivelmente pela ausência da pressão do Ministro Lupi, a deixar as suas hostes nas reivindicações personalistas, frente às negociações objetivas, a que a máquina pública foi conduzida na avaliação dos pesos partidários. Nem escapou ao País, por outro lado, o populismo patético do PSDB, nesse primeiro desforço político com Dilma, no apregoar de cifras para o  mínimo, destituídas de toda razoabilidade.

O que se destaca, de logo, é a consonância do Planalto nas visões a médio e longo prazo do nosso desenvolvimento. A fixação no nível severo, mas alcançável, dos 4,5% do PNB, vem de par, em plena lua de mel do governo, com a redução da despesa pública em todos os níveis da administração direta e indireta, nos cortes sem retórica do Ministro Mantega.

Da mesma maneira, o Planalto soube adiar todo devaneio, quanto às velhas e gastas reformas de base, acalentadas nos travesseiros de todo começo do poder. Não é hora, ainda, da reforma do fisco, no quadro ainda impreciso da crise global, nem, sobretudo, da decantada reforma política, no país que ainda não definiu seu efetivo modelo econômico, no quadro da presença do Estado no processo de produção, da tolerância com as clientelas políticas e do comando das dotações orçamentárias. Mas, sobretudo, o governo que começa sabe do salto histórico que ganhou sobre o que dizer e o que fazer, na obsolescência a que condena o venerável tucanato.
 

Jornal do Commercio (RJ), 25/2/2011