Entre os atributos que Lula conquistou em seus oito anos de governo, ele se destacou não apenas pela taxa de aprovação popular, mas também por ter sido o presidente que mais tempo ocupou na mídia. Além do trivial que acompanha qualquer autoridade, ele dava a impressão de buscar câmeras e holofotes onde houvessem câmeras e holofotes. A crise atual que varreu a Tunísia e agora o Egito seria um excelente palco para ele se mostrar à plateia universal. Não chega a ser um defeito dele, é coisa de seu temperamento.
Acontece que sua imagem junto à rainha da Inglaterra, com o Papa, com Obama, em lugar de destaque nas reuniões internacionais, sempre pareceu uma gentileza para com o ex-pau de arara e ex-metalúrgico que conquistou bravamente uma posição de relevo entre os personagens mundiais.
Havia alguma coisa de postiço nessas situações. Por mais esforço que fizesse para ser natural, Lula dava a impressão de estar dizendo para todos: “Veja aonde cheguei!” Ponto a favor dele. Ontem, os jornais divulgaram uma foto do ex-presidente misturado com a torcida corintiana durante um jogo, creio que no estádio 1.º de Maio, com a camisa e o boné de seu clube. Era o homem certo no lugar certo.
Sem desprezar seus méritos de homem público, sem esquecer o saldo favorável entre erros e acertos de sua administração, no meio da torcida ele parecia um torcedor a mais, um rosto na multidão – que as celebridades de qualquer escalão geralmente procuram evitar.
O governo de Lula não foi a maravilha curativa que ele mesmo apregoa. Teve seus pontos altos e baixos, como quase todos os que chegaram à Presidência. Agora, em termos de empatia popular, sem fazer gênero nem demagogia, ele se comporta realmente como é. Outro ponto a favor dele.
Folha de São Paulo, 1/2/2011