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Contagem regressiva para a oposição

 

O governo Dilma é todo o contrário, no seu nascimento, de um quadro de trancos e barrancos, ou de emergência de inconformismos latentes, nos dois mandatos do governo petista. No corte da equipe ministerial, entre quem ficou e quem entra, pode-se desenhar a expectativa da continuidade sem continuísmo, claramente manifestada desde o discurso inaugural. Mas a tranqüilidade nesse futuro imediato, e mesmo a médio prazo, tem como seu primeiro aliado a própria afirmação oposicionista, herdeira da força eleitoral da candidatura tucana. Mas em que termos a vitória do PSDB nos seis estados articula, numa frente coesa, o que seria o confronto com o governo nascente?
 
Em alguns casos, como no Pará ou em Tocantins, os êxitos eleitorais mínimos deixam esses Executivos reféns dos novos avanços do PAC - e acelerados - nessas áreas. As governanças, por outro lado, de Goiás ou Mato Grosso do Sul manifestam a sua total autonomia ao, desde a posse, aproximar-se do governo Dilma e criar a sua contabilidade imediata de expectativas e favores.

Ao lado desses condotieres, de um partido desarmado de toda a  coesão, ou de um  programa aliciante, os candidatos naturais à liderança tucana nascida do último pleito mantêm-se  num quadro de prudência ostensiva no assumir o confronto aberto.Há uma omissão natural de Serra de saída,a desarmar toda herança natural desse papel, a parecer, de vez, ir a Aécio Neves.

A arquitetura básica dessa oposição está no eixo São Paulo-Paraná, mas se ressente do cuidado de Alckmin, ainda, de virar a página do passado imediato e buscar uma visão prospectiva, de vez, para o tucanato. A cobrança ideológica vem à frente nesse vazio, inclusive como álibi para negociar o novo pacto de poder exigido por benefícios como o do PAC e sua cobrança pelos prefeitos.     

Nesse mesmo plano programático, o governo já se antecipou, nitidamente, na identificação do Estado como provedor básico da mudança, em nítida confrontação com o neoliberalismo, ainda no coração, senão na nostalgia, do PSDB tradicional. É o próprio tucano-mor, FHC, que não hesita, neste momento, em propor o tratamento radical de "refundação" para o partido, fora das lamentações moralistas e do denuncismo eterno da corrupção do Planalto, malhando ainda o mensalão e o esbulho orçamentário petista.

A vantagem escondida, entretanto, de Dilma é que o novo governo não precisa, de saída, de políticas legislativas, nem reconhece no sistema partidário oposicionista qualquer poder imediato de barganha. Mas, em que frente comum reúne-se esse tucanato, já de mesuras com o Planalto, sem a nitidez do que seja um programa ou suas concessões para os situacionismos camuflados, ou nem tanto, em que ingressa? De toda forma, e na busca do perfil do a que venha, enfrenta , o PSDB um pano rápido: refundações para crer entram, fatalmente, em contagens regressivas.

Jornal do Commercio (RJ), 14/1/2011