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Tragédia ou desafio?

 

Há não muito tempo, a China era considerada uma das nações mais atrasadas do mundo. População imensa e ensino de baixa qualidade eram responsáveis por isso. Agora, entre os 65 participantes do Pisa (exame internacional de avaliação de alunos de 15 anos de idade), a China alcançou o primeiro lugar, com 556 pontos, nos testes de conhecimentos em leitura, matemática e ciências. Isso não é milagre, mas um esforço consciente.


No Brasil, embora tenha havido um pequeno aperfeiçoamento da nossa performance, ficamos num incômodo 53° lugar, atrás de países como o Chile, a Colômbia e Trinidad e Tobago. Fizemos 412 pontos, o que está longe de ser um resultado sequer razoável, pois há um fator meio escondido nisso tudo: quase 20% dos nossos jovens de 15 anos não participam do exame, pois são vítimas do que chamamos de distorção idade/série (não alcançaram a primeira das séries avaliadas pelo Pisa, que é o 7o ano).


Isso representa tragédia ou desafio? Para alguns analistas, crescendo devagar, como está acontecendo, será difícil chegar perto das nações mais desenvolvidas do planeta. Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, "estamos numa luta franca para a redução das desigualdades e temos resultados extremamente positivos nas escolas federais de ensino médio e na política de incentivo às licenciaturas, especialmente em ciências e matemática." Ele vai além: "Se pudermos antecipar a meta de investimento de 7% do PIB em educação para 2015, poderemos dar um salto nesse tipo de avaliação." 


O fato concreto é que se vive um clima de penúria, no setor que deveria ser o mais importante do país. A disputa nos estados é amplamente desequilibrada. O Distrito Federal está na frente e Alagoas fica em último lugar, com índices verdadeiramente vergonhosos. Pode-se argumentar que o DF tem o apoio do governo federal, por ser capital, mas a verdade é que há muito a ser feito em todo o Brasil. Se Xangai venceu Hong Kong, a Finlândia, Cingapura, a Coréia e o Japão, qual é o segredo desse sucesso, que se faz nas três vertentes exploradas nos exames internacionais? Seriedade, formação e remuneração de professores e especiahstas estão na linha de frente dos seus vitoriosos e rápidos procedimentos.


Há alguns pormenores sobre os quais devemos nos deter: o pior resultado é em matemática, corroborando o que aconteceu nos estados; as meninas têm melhores  notas do que os meninos; São Paulo está em quinto lugar no Brasil, enquanto o Rio de Janeiro ficou em oitavo lugar; ainda o sistema é pressionado pelas altas taxas de reprovação, nas séries iniciais do ensino fundamental; livros em casa podem ajudar a melhorar os estudos etc.


Soluções caseiras ou de pouca densidade, positivamente, não irão modificar a curto prazo esse quadro melancólico. Conviria que nossos técnicos procurassem estudar as soluções encontradas pelos países que se encontram à frente. Seguramente terão grandes surpresas. Eis aí o desafio.


 


Jornal do Commercio (RJ), 17/12/2010