A América Latina é o continente mais pacífico do mundo. Não faz parte de nossa história atacar uns aos outros. As guerras datam de mais de 70 anos. Depois não houve nada com a violência da Guerra do Paraguai ou da Guerra do Chaco; os conflitos, como entre Peru e Equador ou o caso das Malvinas, foram limitados em perdas humanas.
Uma coisa que surpreende o mundo, e recentemente o Departamento de Estado dos EUA ressaltava, é que o Brasil é o único caso de potência mundial que surge sem ser potência militar. Sua influência e ação não estão baseadas nas armas.
Por isso, quando a Venezuela iniciou uma corrida armamentista querendo ser potência militar, tive a oportunidade de denunciar o fato e suas conseqüências para o Brasil e para toda América do Sul. A maciça compra de armas que aquele país fez à Rússia, à China e — agora se sabe, pelos vazamentos da WikiLeaks — à Suécia e à Espanha, mostra que o nosso aumento em despesas militares é necessário. Não é que estejamos em algum momento pensando em guerra, mas não admitindo que um grande país como o nosso seja vulnerável a pressões militares no continente e fiquemos em situação estratégica frágil.
Agora mesmo, nestes vazamentos de telegramas feitos pelo WikiLeaks, há um que dá para preocupar. Um dos maiores riscos da humanidade são os vetores, transportadores de artefatos, dos menos inofensivos até os mais destruidores. Não é por acaso que vemos com alarme o Irã e a Coréia do Norte desenvolvendo foguetes intercontinentais.
Agora sabemos que a Rússia não vendeu à Venezuela somente os cem mil fuzis Kalashnikov, mas cem mísseis antiaéreos, de manejo individual, uma das armas consideradas desestabilizadoras de poderio militar. Esses mísseis podem derrubar helicópteros e até aviões, são manejados por um soldado só e são de fácil deslocamento, dispondo de alta tecnologia para atingir alvos localizados. Eles facilmente poderão cair em poder das Farc, dando uma conotação mais grave àquele conflito. Nos computadores de Reyes foram também encontradas referências a essas armas e desejo de acesso a elas.
Além dos Migs, submarinos, fragatas, munições, de consultores cubanos para formação de pessoal, sabemos agora que a Venezuela também comprou lanchas de patrulhas armadas à Espanha e só não comprou aviões transportadores de tropa porque os Estados Unidos proibiram a venda às fábricas espanholas de aparelhos eletrônicos necessários à fabricação desses aviões.
Segundo outros informes, os russos confirmaram a venda dos cem foguetes Igla, como também a disposição de fornecimento de outros lotes.
Nossa posição na Amazônia, voltada para combater o narcotráfico agora associado à guerrilha, precisará equipar-se de meios atualizados, capazes de dissuadir qualquer desestabilização de forças naquela área. Mas, o que nos preocupa acima de tudo é termos corrida armamentista no continente, onde só desejamos paz.