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Nome aos bois

 

Leitora de distantes terras, acho que de Garanhuns ou mais longe ainda, manda-me e-mail reclamando de algumas coisas e elogiando outras. Diz ela que não se espantou quando soube que o noivo, vindo ao Rio a trabalho, foi atropelado na N. Sra. de Copacabana e removido, com risco de vida, para um hospital na zona sul.

Até aí, tudo bem, todos corremos riscos de vida e morte, no caso dela, sempre reclamou do noivo a falta de atenção dele, é um desligadão e, entre o trânsito de Garanhuns e o da N. Sra. de Copacabana, há um bocado de diferença.

Ela estranhou com alguma veemência o nome do hospital onde o rapaz foi internado. Diz ela que Copa d’Or é nome de hotel, e não de hospital, que antigamente os jornais chamavam de “nosocômio”. Em São Paulo existia, até certo tempo, um hotel com nome parecido, Ca d’Oro, tirado de um belo palácio veneziano. Pelo que deduzo, a leitora acha que o nome dos hospitais deve combinar com sua finalidade.

Nomes pios, como Samaritano, Evangélico, Bom Pastor. Ou de santos eficazes nas horas do desespero, como São Vicente dos Desamparados, São José da Boa Morte, Nossa Senhora dos Aflitos. Não parece, mas hospital devia ter nome condizente com o oficio específico, invocando a esperança ou aceitando a resignação diante do fim de cada um de nós.

Como os motéis de beira de estrada, que prometem maravilhas no nome (Orgasm, Êxtase, Paradiso, Honeymoon, Love Inn etc.), os hospitais que se prezam deviam ter nomes adequados, como Marca do Pênalti, Tá Chegando a Hora, A um Passo da Eternidade, Adeus às Ilusões, coisas assim.

Dou razão à leitora, mas sem exageros. Sempre embirrei com nomes técnicos dados aos hospitais como Instituto do Coração, Academia do Pâncreas, Sodalício dos Rins, Beneficência dos Pulmões. Tudo tem sua hora e vez.

Diário da Manhã (GO), 11/12/2010