A sugestão foi do inspirado escritor e acadêmico Moacyr Scliar: “Se tu vais a Portugal, não deixes de visitar a Livraria Lello, no Porto. Na minha opinião, é a mais bonita do mundo.”
Ele estava certo. Levado pelo acadêmico Arnaldo Saraiva, da Universidade do Porto, extasiei-me diante da construção manuelina, com um interior de madeira que parece cenário cinematográfico. Além da geometria das escadas, tive a minha atenção despertada pelos vitrais que ornamentam a matriz da importante livraria, citada em muitos romances portugueses e brasileiros.
Agora mesmo, foi anunciado no guia australiano Lonely Planet que a Lello é a terceira melhor livraria do mundo, superada apenas pela City Light Books de São Francisco (EUA) e a El Ateneo Grand Splendid, de Buenos Aires. Sobre a Lello é este o comentário: “Uma joia da arte nova em Portugal, que continua a ser uma das lojas mais espantosas do mundo.” Para mim, a primeira.
Antiga Livraria Chardon, a atual Livraria Lello & Irmão situa-se na rua das Carmelitas, no Porto, inaugurada no dia 13 de janeiro de 1906, em estilo neogótico, hoje um patrimônio nacional. Há livros em várias línguas expostos em mesas de madeira, com pilares em que se encontram bustos de grandes escritores, como Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Guerra Junqueiro, entre outros. Um deslumbramento, enriquecido pelo vitral no teto em que se encontra o ex-libris da empresa: “Decus in Labore.”
No livro de ouro desse monumento à cultura é possível ler o registro do escritor Abel Botelho: “... erigir um tão formoso templo ao divino culto da Emoção e da Ideia é um grande ato de benemerência, que, pelos seus largos e fecundos resultados, há-de ligar perduravelmente os nomes de Lello & Irmão ao reconhecimento nacional.” Aliás, esse reconhecimento chegou também ao Brasil, que teve igualmente o privilégio de contar com uma filial da empresa.
Fui apresentado a Antero Braga, administrador da Livraria Lello de Portugal. Figura simpática, não deixou que eu comprasse livros: “Acadêmico do Brasil, aqui, não paga nada!” Foi possível ter acesso a dados históricos do que hoje se chama “a catedral do livro”.
Encarregado das obras de restauro da Livraria, o arquiteto Vasco Morais Soares explicou, em estilo clássico, o sentido mais profundo da obra realizada: “A configuração espacial da Livraria Lello permite atingir o objetivo, transformando-se sobre si mesma, sem lhe retirar o espírito vetusto, a monumentalidade romântica do neogótico e, principalmente, a luz coada que ali nos envolve numa catedral ou na imaginação de um livro de Dickens, e que sem impor sempre obriga a falar em voz baixa.”
Depois de subir pelas escadarias “com balaustres e corrimões polidos e macios”, alcançamos a seção de livros antigos, CDs e gravuras, com uma quase insopitável vontade de comprar tudo, o que só poderia mesmo ocorrer num ambiente extremamente sensível e, por isso, agradável. Uma bela visita!