Antes de começar o debate, a movimentação no estúdio da Bandeirantes parecia os preparativos para uma luta de boxe, os contendores em cada canto, os treinadores dando as últimas instruções, a contagem do tempo e, nos intervalos de cada round, a entrada no ringue dos segundos, aqueles caras que levam toalhas e baldes para a recuperação dos estragos.
Apesar disso, foi um dado revelador de cada candidato. Nada de novo no conteúdo das perguntas e respostas, já sabidas ao longo da campanha. Neste particular, cada um ficou na sua. A novidade foi a forma, oposta ao conteúdo, quando ficamos conhecendo o temperamento dos candidatos.
Serra mostrou-se sóbrio, defendeu-se e atacou dentro de uma linha experiente, fazendo referência à sua longa carreira na vida pública. Dilma revelou um temperamento mais sanguíneo, em alguns momentos parecia que ia explodir.
Serra apresentou o seu currículo político e administrativo, bem maior do que o de Dilma, cujo currículo, afinal, se expressa nos oito anos do mandato de Lula – o que não é pouca coisa.
Impressionou-me, na atuação da ex-chefe da Casa Civil, o olhar que em alguns momentos lembrava o olhar de Fernando Collor quando está enfurecido. Evidente que o pessoal do PT aconselhou-a a mudar de tática, substituindo a doçura feminina ela elevação do tom de voz, pelo olhar meio esgazeado, pelo ataque aberto ao adversário.
Já disse que não votarei em nenhum dos dois, mas, feitas as contas, acho que a democracia terá um ganho significativo com a disputa eleitoral que parece uma luta de boxe. Muitos esperavam um debate light, expressando um clima cor-de-rosa hipócrita e artificial, pois a hora está chegando e a plateia espera uma definição por nocaute.