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Un pò de chiesa

 

Alguns leitores reclamaram da crônica anterior ("Debate do segundo turno"), publicada na última quinta-feira. Uns não compreenderam, outros acharam falta de respeito para com os dois candidatos e para com Deus Todo-Poderoso. E todos a julgaram inoportuna.


Bem, acontece que não entendo de política, não entendo nada de nada. Mesmo assim acompanhei as análises dos especialistas na matéria e verifiquei que as únicas surpresas foram a votação de Marina e a queda de Dilma, que deveria ter ganhado no primeiro turno.


As equipes técnicas que trabalharam para os candidatos chegaram à conclusão de que a fé, a questão do aborto principalmente, foi decisiva. Recomendaram aquilo que os italianos chamam de "un pò di chiesa", um pouco de religião.


Prometer saneamento básico, educação, saúde, segurança e outros itens materiais é rotina. Uns pelos outros falam as mesmas coisas. Eleitores há que pedem alguma transcendência, daí que muitos católicos e a totalidade dos evangélicos emigraram para Marina.


A tônica da campanha ameaça agora dimensão nova. Os dois candidatos mostrarão na TV as fotos da primeira comunhão, expressarão a liberdade religiosa para com todos os cultos, mas com opção preferencial para com os cristãos, que incluem católicos, protestantes em geral, inclusive os evangélicos, espíritas etc., a maioria, enfim, do eleitorado.


Sabe-se que a descriminação do aborto faz parte do programa inicial do PT, e acusaram Dilma de ser a favor dessa tese. Ela negou. Como todos os que evitam claramente abordar a questão, ela diz que é a favor da vida - o que é vago: ninguém é a favor da morte.


Serra está mais ou menos no mesmo caso, daí que todos devem louvar Nosso Senhor Jesus Cristo.


Folha de São Paulo, 10/10/10