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Apagando incêndios

 

Quando o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália, em 1942, pelo menos aqui no Rio houve uma campanha para formar bombeiros voluntários: medo de ataques aéreos que não chegaram a acontecer. Um vizinho meu, um tal de Bezerra, recebia inscrições de pessoas acima de 50 anos.

Desconfio que meu pai, clandestinamente, foi um dos voluntários, atitudes heroicas combinavam com ele. O fato é que, mesmo sem guerra à vista, os bombeiros sempre foram benquistos pela população, até hoje é assim.

Arriscam a vida, são chamados para grandes incêndios e pequenas aporrinhações domésticas, portas que não abrem, fogões que explodem etc. Ganham uma miséria, menos que uma faxineira que trabalha três vezes por semana.

Revoltados, fizeram um movimento que descambou para uma violação da hierarquia militar a que estão submetidos. Muitos foram presos e deverão responder processo e serem expulsos da corporação.

Tudo bem, ou melhor, tudo mal. Acontece que o caso deles merece uma reflexão e um tratamento especial. Creio que não apenas no Rio, mas em todo o Brasil, da ponta visível do grande iceberg que é o Estado, eles são, de longe, os mais benquistos pela população.

Nem sempre dispõem de equipamentos nem mesmo de água em alguns casos. Mas basta chamá-los e eles aparecem e fazem o que podem, em geral salvando vidas e socorrendo feridos.

Isso ocorre não apenas no Brasil. Em Nova York, no atentado às torres do World Trade Center, os bombeiros locais foram heróis e muitos deles morreram tentando salvar o que era possível.

Agora, por falar em bombeiros voluntários, lembro a piada de um humorista português cujo nome esqueci. Um pai com voz autoritária diz para o filho: “Queiras ou não queiras, meu filho, serás bombeiro voluntário!”.

Folha de São Paulo, 7/6/2011