Foi uma comemoração singela, de acordo com a personalidade da homenageada. A professora Edília Coelho Garcia, ao completar os seus primeiros 90 anos de vida, como se disse no belo cartão que lhe foi entregue, na Casa de Julieta Serpa, no Rio, falou um pouco sobre as lembranças e as esperanças que ainda tem em relação a educação brasileira. Não escondeu o seu tradicional e conhecido espírito crítico: “Se não forem feitas mudanças substanciais, será difícil encontrar o caminho que nos leve ao crescimento desejado.”
Ela reclama da grande insatisfação existente, motivada pelo desapreço ao ensino formal. Assinala que há índices absurdos de repetência e de desistência, tocando num ponto crucial: “Muitos estudantes estão até fugindo da escola e outros agridem seus professores, como se isso pudesse ser admitido no processo.” Isso tudo configura desperdício de tempo e de dinheiro, na busca necessária de uma educação de qualidade.
Dona Edília, que dirigiu durante muitos anos o Colégio Brasileiro de Almeida, reclama do estágio em que se encontra a formação dos professores, tão precária que será impossível, hoje, acertar a necessária mudança na metodologia do ensino, para tornar as aulas mais atraentes para os educandos que se vão acostumando, devido aos avanços da ciência e da tecnologia, a conquistas eletrônicas muito atraentes para o espírito de curiosidade dos jovens. Defende, por isso mesmo, a mudança na estrutura dos cursos de Pedagogia.
Por outro lado, tendo convivido com grandes educadores, como Helena Antipoff, D.Lourenço de Almeida Prado e Esther de Figueiredo Ferraz (a primeira mulher a ocupar a pasta da Educação, em nosso país), a professora Edília, que deu aulas de Educação Moral e Cívica, ao mesmo tempo que era membro do saudoso Conselho Federal de Educação, faz questão de lembrar um pensamento de Anísio Teixeira, considerando-o mais oportuno do que nunca: “Educar é crescer. Crescer é viver educação e a educação é o instrumento fundamental.”
Preocupada com a existência de graves problemas nas escolas públicas, como a violência, as drogas e a pouca resistência aos danos ambientais, dona Edília preconiza maior responsabilidade social por parte das nossas autoridades, além de uma ação efetiva no sentido de oferecer oportunidades iguais para todos. Tendo sido por quatro anos uma eficientíssima Sub-Secretária de Estado de Educação e Cultura, no período de l979 a 1983,quando exercemos a titularidade do cargo, ela hoje lembra com saudade das nossas viagens pelo interior do estado do Rio de Janeiro, a fim de promover a inauguração de nada menos de 88 escolas devidamente cadastradas no famoso PAEC(Plano de Ação de Educação e Cultura), todo ele montado na nossa gestão. Era uma época em que se acreditava piamente na força do planejamento.
Só no período mencionado, foram construídas mais de 900 salas de aula e o número de vagas cresceu em 150 mil, além das bolsas de estudo que eram oferecidas(mais de 100 mil). Se isso tudo for comparado com o que ocorre hoje, no sistema público, em que se perdem alunos por variados motivos, a diferença é realmente descomunal.
Ainda houve tempo para falar nos aumentos concedidos ao magistério público, dividido em cinco categorias, algumas das quais obtiveram ganhos de até 1.000%. Na comemoração dos 90 anos da grande educadora, sobrou tempo para sentir saudade de memoráveis tempos idos e vividos.
Jornal do Commercio (RJ), 1/10/2010