Uma das frequentes observações que se faz, no mundo da educação brasileira, é o fato de que convivemos com realidades rigorosamente distintas. De um lado, escolas beneficiadas, sobretudo nos grandes centros urbanos, com uma qualidade que nada fica a dever às nações pós-industrializadas. O Enem é bem uma realidade disso. De outro lado, escolas paupérrimas, principalmente no interior do país, sem condições de contribuir para o desenvolvimento local.
Foi pensando nisso que nasceu o Projeto Embratel Educação, administrado pelo Instituto Embratel, visando a ações de responsabilidade social em torno da educação básica, especialmente em escolas públicas do campo. O principal objetivo é melhorar a educação brasileira, com a sua experiência de empresa bem sucedida, disponibilizando Tecnologias da Informação e da Comunicação. É uma forma democrática de reduzir a exclusão social que infelicita boa parte das mais de 200 mil escolas brasileiras.
O aspecto essencial para integrar o projeto é estar bem distante dos centros urbanos, em locais de difícil acesso. Assim são criadas condições favoráveis para acesso à informação atualizada, ao conhecimento, a serviços públicos e outros bens sociais. Os serviços levam à internet banda larga, via satélite, além de ferramentas como um canal de TV que funciona 24 horas por dia; acesso à Biblioteca digital multimídia, com mais de 35 mil gravuras digitalizadas e cerca de dois mil vídeos educativos e culturais produzidos por especialistas brasileiros; cursos online de auto-aprendizagem em informática.
Tudo isso e mais CD-rom para emprego offline em diversas outras atividades. O Projeto Embratel Educação, segundo o seu diretor, professor Luiz Bressan Filho(ex-reitor da Universidade Santa Ursula), procura levar cultura digital aos que aos que ainda não tiveram o recurso da internet à sua disposição. Os resultados têm sido bastante animadores.
Há um fato que se pode destacar, nesse tipo de empenho, como vimos em outras oportunidades, no interior do país, que é o poder de aglutinação, no trabalho de inclusão digital. O interesse deixa de ser praticamente individual para se tornar coletivo, trazendo excelentes resultados quando se está diante dos incríveis problemas da desigualdade cultural.
É interessante observar a variedade dos perfis das comunidades atendidas, para que se tenha a exata noção do alcance da iniciativa. São técnicos agrícolas, indígenas, quilombolas, protegendo assentamentos, reservas extrativistas e comunidades rurais, onde muitas vezes as turmas são organizadas na forma multisseriada, um único professor assumindo o processo ensino-aprendizagem de várias séries escolares. Esse não é o ideal, mas acaba sendo a única alternativa possível. São oferecidos também cursos de cidadania, meio ambiente e trabalho e renda.
Na verdade, nada seria viável realizar, com proveito, se não houvesse um grande esforço de capacitação docente dos professores das redes municipais, que se ressentem de enorme e indesejável precariedade. Há um caso emblemático a se assinalar, sob esse aspecto, que foi o projeto realizado na cidade fluminense de Maricá. É considerado um caso de sucesso e ganhou o nome de “Conectando saberes: a tecnologia educacional em rede.” Os professores foram antes treinados nos laboratórios de informática educativa da rede municipal.
Jornal do Brasil,11/9/2010