Durante a campanha, os candidatos à Presidência bem que podiam aproveitar o tempo de exposição de que dispõem, sobretudo na televisão, para falar sobre a própria vida pessoal, as dificuldades que tiveram nas carreiras, na família, nos estudos, nos cargos que já exerceram, as soluções que encontraram, as vitórias e derrotas da complicada luta do viver.
Sabe-se muito pouco sobre eles, o material existente e divulgado não se diferencia do elogioso e marqueteiro currículo de vida com que qualquer pretendente a qualquer cargo procura se apresentar ao possível patrão.
É óbvio que falam muito sobre o que desejam e podem, dão palpites sobre célula-tronco, aborto, enriquecimento de urânio, preparação de atletas para as Olimpíadas, conquista espacial, aproveitamento do lixo, combate ao tráfico, salários dos professores, Estado laico e desenvolvimento do cinema nacional.
Uns pelos outros, todos têm e prometem medidas convergentes ou complementares para todos os problemas da nação, dos Estados e dos municípios.
Mas, no fundo, ficamos sabendo muito pouco de quem é quem, como se comportam ou comportaram na vida comum, na família, nos estudos, nos cargos que exerceram, como reagem quando perdem ou quando ganham, nas doenças, na educação dos filhos, na própria educação recebida.
De Serra sabemos alguma coisa pelos cargos que exerceu, desde estudante. De Dilma, que foi guerrilheira, mas sem muitos detalhes. De Marina, que aprendeu a ler aos 16 anos (este fato é realmente revelador em termos biográficos). De Plínio, que é um intelectual.
Uma vez perguntei a uma jovem que me impressionara qual era a cor de sua pasta de dentes. Colou. Tivemos um caso e até um filho.
Folha de São Paulo, 15/8/2010