Não lembro onde li, acho que em algum livro de ficção cientifica, gênero que não aprecio, mas volta e meia dou nele uma ciscada para saber o que estão inventando.
Tirante Júlio Verne, que acertou na mosca em muitos lances, o resto é papo furado.
Arthur Clarke, por exemplo, em "2001 - Uma Odisseia no Espaço", imaginou que nesse ano estaríamos andando pelo espaço ao som de "Danúbio Azul" e com um computador complicado capaz de ter ciúmes.
Mas a história que queria contar é mais cruel e, ao mesmo tempo, mais provável. Num ano qualquer do futuro, com os computadores superdesenvolvidos no mercado, uma equipe de técnicos pergunta ao mais sofisticado deles se Deus realmente existe. O computador pede que seja conectado a todos os outros computadores existentes no mundo e aí responde: "Sim, agora existe".
Por essas e por outras, sempre encaro meu notebook com respeito, o mesmo respeito que dedico às pessoas burras, que podem extrair a raiz quadrada de um logaritmo, mas são incapazes de acertar no bicho, coisa que às vezes eu consigo sem muita dificuldade.
Outro dia, quis achar um amigo que se chama Artur e coloquei o endereço dele sem o H. Qualquer carteiro imbecil entenderia que eu queria me comunicar com um Artur, mas o computador declarou que o meu Artur era inexistente.
Pior mesmo foi um sujeito que descobriu só agora que meu nome tem um ipsilone. Mandara uma porção de e-mails para um tal Coni e finalmente postou uma carta comum, dessas com cantoneiras em verde e amarelo, reclamando de minha má educação eletrônica.
Por falar nisso, nenhum autor de ficção científica previu coisas simples como a fita durex e o emplastro Sabiá. Muito menos o famoso e infalível emplastro Brás Cubas.
Folha de S. Paulo, 13/6/2010