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Palavras, palavras, palavras

 

Em 1998, estava na França e fiz parte da numerosa tribo de palpiteiros que comentavam as partidas daquela Copa do Mundo. Não fiz exceção à regra, afinal, era o meu oficio.


Estranhei, contudo, o número daquilo que costumam chamar de "formadores de opinião".


Eram tantos a formar opinião que não sobrava ninguém para ter sua opinião formada por um deles -eu, inclusive.


Este ano, estou do outro lado da cerca, e mais uma vez me admiro com a poluição que domina as TVs, rádios, jornais, revistas e internet.


Além dos profissionais, há os ex-jogadores que também dão palpites; eles conhecem melhor o assunto, embora nem sempre conheçam a gramática. Mas não é isso o que se espera deles.


São, de longe, os melhores, pois sabem como as coisas se passam no campo, identificam melhor uma falta, um impedimento, uma falha do juiz, uma burrice cometida por um atacante, a bobeada fatal de um zagueiro.


Mesmo assim, acho que há exagero de comentários. Falo isso por mim: concordo imediatamente com as opiniões que coincidem com as minhas e considero asnático qualquer comentário que não aprovo. Uns pelos outros, acho que todos somos assim, queremos ouvir o que pensamos. Dificilmente mudamos de opinião por conta de argumentos contrários.


Mas que há poluição opinativa, sobretudo em tempos de Copa do Mundo, há. E chega a ser cansativa. Impossível acompanhar o que a mídia despeja em cima de nós.


Evidente que este comentário é o de um ouvinte, um simples espectador. Na Copa da França, fiz parte da alegre banda que explicava por A mais B por que o Brasil poderia ter ganho o pentacampeonato.


Não convenci ninguém, nem mesmo a mim.


Folha de S. Paulo (RJ), 16/5/2010