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O que ainda falta é educação profissional

 

No encontro nacional dos Centros de Integração Empresa-Escola (CIEEs), em Florianópolis, discutiu-se a atualidade da educação brasileira, sobretudo o aspecto que se refere ao ensino profissional. Há elementos positivos a comemorar. Um deles é o crescimento do número de escolas técnicas, mas há muita coisa ainda por fazer, como a implantação do sistema federal, que não apresenta a necessária capilaridade. As discrepâncias são grandes, considerando os estados mais e menos desenvolvidos. Faltam professores bem formados e equipamentos especializados, nesta época em que o desenvolvimento científico e tecnológico cresce minuto a minuto (vejam o exemplo da informática).


Sob a inspiração de uma legenda da Universidade Federal de Santa Catarina (“produzindo conhecimento para um mundo melhor”), local do encontro, vários especialistas se debruçaram sobre a matéria. Eliezer Pacheco, Silvestre Heerdt, Álvaro Prata (reitor), Paulo Nathanael, Márcio Felsky e Ruy Martins Altenfelder, além deste autor, produziram textos para que o país possa alcançar, no menor prazo possível, o crescimento com democracia. Mas há obstáculos bem visíveis, o maior dos quais talvez seja o fato de que ainda carecemos de recursos financeiros. A verba do MEC subiu de 19 ara 59 milhões, mas não é suficiente para o vulto dos desafios existentes.


Vejam o que se passa no atual ensino médio, que não garante o emprego. Há muita confusão no que chamamos de profissionalização. Precisamos de mais e melhores cursos técnicos ou de qualificação profissional, embora se deva ressaltar o enorme esforço realizado até agora pelo Sistema S, digno do nosso respeito, e que caminha com determinação para uma gratuidade progressiva.


No ensino superior, como foi dito em Santa Catarina, o quadro não é dos mais róseos. Com a nossa declarada diversidade social e a necessidade de amparo à inovação tecnológica, deveríamos estar num patamar mais avançado. Não é o que acontece, no conjunto da obra. Temos 50% dos nossos 5 milhões de estudantes presenciais matriculados em apenas cinco cursos, privilegiando Direito e Medicina, o que é uma autêntica distorção, agravada pelo fato de que a grande maioria desses jovens estuda na região Centro-Sul do país.


Há um dado ainda mais inquietante: 87% dos jovens de 18 a 24 anos de idade estão fora do ensino superior. O Prouni já alcança 600 mil jovens, na gratuidade, todos eles muito pobres, mas se pode ver que estamos longe de números sequer razoáveis. Isso pode travar o nosso crescimento.


Temos uma poderosa reserva estratégica, que agora começa a ser utilizada. Trata-se da educação à distância, modalidade extremamente útil sobretudo quando se deseja, como sugere a Unesco, que a educação seja continuada, ou seja, aprendizagem para toda a vida. Já se registra um número de alunos não presenciais superior a 1 milhão, com todos os cuidados que devem ser tomados na avaliação. É preciso prestar atenção nas palavras do reitor Álvaro Prata: “O Brasil não é mais o país do futuro; é o país do presente”.


Portanto, mãos à obra.


Folha Dirigida (RJ), 6/5/2010