Na mesma medida em que o poder tecnológico e econômico dos Estados Unidos não pode ser contestado, aumentam a cada década, e agora quase a cada dia, dúvidas sobre a sua eficiência política e, sobretudo, sobre a moralidade de seus interesses.
Desde o término da Segunda Guerra Mundial, quando, à frente dos aliados contra o nazifascismo, viveram sua ‘finest hour’ histórica, dando de lambuja o Plano Marshall, que ajudou na reconstrução de Europa destrocada, os Estados Unidos patinam em campanhas inglórias, sem tirar os pés do pântano que inclui as guerras da Coreia e do Vietnã, a Baia dos Porcos (até que o nome vem a calhar), quando tentaram invadir Cuba, a interminável e dolorosa ambiguidade na questão do Oriente Médio, e na truculência da invasão do Iraque.
É uma pena. Acredita-se que todos gostaríamos de gostar, e gostar muito, dos Estados Unidos, por tudo de maravilhoso que produziram, desde a lâmpada elétrica, a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers, passando pelo gramofone e pelo sanduíche com uma porção de coisas, inclusive com aquela inútil mas decorativa folha de alface.
Não deve existir um único ser humano na face da Terra que não deva, direta ou indiretamente, alguma coisa de grande ou de ínfimo, de coletivo ou de pessoal aos Estados Unidos.
Ora, dirão, a onda contra os americanos é fruto do ressentimento do mais fraco contra o mais forte. Ou até mesmo da pura e humaníssima inveja.
Não é verdade. A França teve mais do que seus 15 minutos de glória e hegemonia política e cultural. A Inglaterra também.
Descontadas as exceções de praxe e circunstância, eles não provocaram a histeria, o ódio que os Estados Unidos estão despertando cada vez mais em gênero, grau e amplitude.
Folha de S. Paulo (RJ), 25/5/2010