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Ataulfo Alves, Dalva e Herivelto

 

No rastro do grande sucesso da minissérie “Dalva e Herivelto, uma canção de amor”, da Rede Globo, muito bem escrita por Walcyr Carrasco, cabe registrar a participação, nas crises que marcaram a vida do casal, de um sambista que marcou época no país. Trata-se de Ataulfo Alves, que no ano passado teve o centenário de nascimento lembrado, inclusive com o lançamento do livro "Ataulfo Alves - Vida e Obra", de Sérgio Cabral.


Nascido na cidade de Miraí, localizada na Zona da Mata, em Minas Gerais, Ataulfo Alves de Souza chegou ao Rio de Janeiro aos 18 anos para trabalhar com um médico, fato este que mudaria completamente a sua vida. Por não gostar do novo ofício, ele conseguiu uma vaga na Drogaria do Povo, tornando-se prático de farmácia. Mas a opção pela vida artística já se desenhava: depois do expediente, corria para as rodas de samba, no Rio Comprido, onde era um craque na arte de tocar cavaquinho, violão e bandolim. Depois vieram o casamento, os filhos, o contato com Carmem Miranda ainda desconhecida, a primeira gravação (samba Sexta-feira, na voz de Almirante), e muitos outros sucessos, com interpretações antológicas de Sílvio Caldas, Orlando Silva e Carlos Galhardo, entre outros.


O ano de 1942 apresentou para Ataulfo Alves uma situação atípica: ninguém queria gravar a sua última música, Ai, que saudades da Amélia, feita em parceria com Mário Lago. Embora as teses da ativista feminista Betty Friedan só viessem a fazer alarde na década de 60, a figura da mulher sintetizada na música – conformada, dominada, passiva, submissa – parece que soou um pouco estranho para os cantores da época. Por fim, o próprio gravou a música, que se tornou um dos clássicos da música popular brasileira.


Segundo Haroldo Costa, nos anos 50 (Anos Dourados), ocorreram grandes transformações conceituais no samba, entrando em cena o romantismo, com destaque para o samba-canção e o sambolero. Data deste período a polêmica musical envolvendo a separação do casal Herivelto Martins e Dalva de Oliveira, que marcou profundamente o meio artístico e legou ao país músicas inesquecíveis. E mais uma vez Ataulfo Alves estava em cena.


No meio da crise conjugal, Herivelto Martins compôs músicas como Cabelos brancos, Segredo, Caminhemos e Caminho certo, esta em parceria com o jornalista David Nasser, todas com grande repercussão junto ao público. Dalva de Oliveira retrucava gravando, por exemplo, Tudo acabado, de J. Piedade e Oswaldo Martins e Errei sim, de Ataulfo Alves (Errei sim/Manchei o teu nome/Mas foste tu mesmo o culpado/Deixavas-me em casa/Me trocando pela orgia/Faltando sempre/Com a tua companhia/Lembra-te, agora, que não é sSó casa e comida/Que prende por toda a vida/O coração de uma mulher).


Sua arte chegou aos anos 60, sempre agradando aos novos compositores. A prova disso é que o próprio Chico Buarque de Holanda admitiu que o seu samba Quem te viu, quem te vê foi claramente influenciado pelos sambas de Ataulfo Alves. Até que no dia 20 de abril de 1969, o General do Samba, como era conhecido, que vivia debilitado pelos graves problemas de úlcera no duodeno, faleceu, deixando órfã a nossa MPB.


Tribuna de Petrópolis (RJ), 13/1/2010