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Corrupção, moralismo e oposição

 

A entrada num ano eleitoral marca-se de medidas promissoras. Nunca tivemos um presidente com a popularidade de Lula ao fim de um segundo mandato, e constitucionalmente irreelegível. Nem uma consciência popular tão distinta do que fosse o partido que levou o petista à vitória em 2002. E a ter a consciência da sua afirmação política, até onde intransferível a outra candidatura?


O sucesso deste governo marca bem e, de vez, a ruptura com o passado imediato. É como uma opção que se deu a escolha eleitoral desses dois últimos mandatos, e esta percepção incisiva deixa claro, na massa do País que vai às urnas, o confronto com as oposições de sempre. Saímos de um mero processo eleitoral onde um vai-e-vem nas urnas produziria apenas as alternâncias de um mero situacionismo, no turno da hora.


Não se saliente apenas o avanço econômico do País, ou da sua mobilidade, mas a caracterização de uma mudança de regimes, não obstante os retrocessos, a partir do desgaste do mensalão. O advento de Lula ao poder ou deste avanço intrínseco do regime democrático, não só na mantença das regras do jogo como da crescente independência e autonomia entre os poderes. Somou-se à perda dos privilégios do Legislativo e do Judiciário o avanço do poder de polícia, no controle da coisa pública.


Vem agora, no penúltimo ano de mandato de Lula, a prova definitiva da contumácia e da permanência dos clássicos abusos das clientelas políticas e do condomínio do poder econômico e político. O escândalo do governador Arruda e a incriminação do ex-governador Azeredo homogeneizaram a rotina da cosanostra, a continuar no Brasil do retornismo democrático e a não distinguir gregos e troianos na defesa do moralismo cívico ou da pureza cidadã. Depara-se uma debilitação limite da oposição, já longínquo o impacto do primeiro mensalão e da imputada crença de uma investidura diferente no Planalto.

 

Foi o que atingiu o PT, e quebrou a onda histórica da expectativa de sua permanência no poder. Todos os cálculos sucessórios, por outro lado, nesta virada de ano, sentem a pobreza das premissas, em que a maioria inicial de Serra aguarda a entrada em campo dos protagonistas do verdadeiro jogo à frente.


Sobretudo, o que mal começa é a marca da mobilização na consciência deste "povo de Lula" e da fruição de uma melhoria de vida inédita e associada ao governo diferente, mas até onde o gozo deste bem-estar perde as suas amarras políticas, confiando na continuação da melhoria, qualquer que seja a chapa ganhadora? Tal pressuposto se desligaria de uma polarização de rumos, ou da escolha nítida - como a que rasgaram os horizontes de "dois Brasis" em 2002.


Tal equivaleria a dizer - como já salientou o Presidente - que a plataforma do desenvolvimento sustentado, ganha duramente nestes anos, não teria verdadeiros antagonistas e tornaria obsoletas as oposições tradicionais. Uma candidatura Serra seria uma variante de uma mesma esquerda básica, frente ao nome petista. O sucesso do PAC aí está - e crescerá nos próximos meses - para trazer o clima da obra pública a todos os municípios brasileiros e o visual concreto da mudança acelerada no plano da saúde, ensino ou habitação, como do arranco das obras de infraestrutura que nos devolvem ao Brasil canteiro-de-obras dos tempos do juscelinismo. O "Lula-lá" continua como "Lu-la-cá" junto ao eleitorado que, definitivamente, sabe o que não quer de volta.


Jornal do Commercio (RJ), 11/12/2009

Jornal do Commercio (RJ),, 11/12/2009