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A competição entre o livro e o computador

 

Hoje, na realidade brasileira, existe a figura do aprendiz legal, abrangendo jovens dos 14 aos 24 anos de idade (incompletos), que têm seguras oportunidades de trabalho, sem as distorções de um regime livre e descosturado. O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), com a tradição de mais de 45 anos de fecunda existência, comanda esse processo de forma competente, sem visar a lucro, pois é uma entidade de finalidades filantrópicas.


O nome aprendizes provém da Idade Média. Eles realizavam o seu aprendizado junto a um artesão experiente, que era o mestre, ouvindo seus ensinamentos (considerava-se a palavra de ouro, na época) e executando tarefas que o habilitariam futuramente a também tornar-se artesão. O mestre tinha o compromisso de ensinar, abrigar e sustentar o aprendiz – e até de tratá-lo como se fosse um filho. Ao aprendiz, cujo pai pagava os estudos, cabia dedicar-se com devoção ao trabalho, para que um dia se tornasse mestre, dotado de capacidade técnica e moral.


Vivemos outros tempos, mas os fundamentos permanecem os mesmos. A revolução escolar é uma utopia sempre buscada, como se viu no debate promovido pela Academia Brasileira de Educação, no Rio, com a Secretária Municipal de Educação, Cláudia Costin. Concluíram os presentes, entre os quais o acadêmico Eduardo Portella, que a educação é uma política de Estado e não de Governo, visando à aprendizagem qualitativamente aperfeiçoada.


Como o Rio é uma cidade de leitores, sugeriu-se que cada escola tenha o seu projeto de salas de leitura, mas há um fator negativo que impede esse processo de evoluir com a rapidez devida: 60% dos professores da rede municipal não têm o gosto pela utilização de livros. A pergunta que ficou no ar foi clara: como levar essa paixão aos alunos, de um modo geral?


Lembrei-me do que vi no Japão, numa visita às suas principais bibliotecas públicas: os pais acompanham o interesse dos filhos pela leitura, que se tornou um hábito diário, não apenas na escola, mas também em casa, sobretudo antes de dormir, de forma sistemática. Se gostam de determinada história, solicitam a sua repetição, até que aquilo se fixe no cérebro de cada jovem. No dia seguinte, na escola, o trabalho da professora é grandemente facilitado.


Entre nós, estamos vivendo a falsa prevalência do computador. Pais e algumas autoridades não ligam para os livros, que são elementos insubstituíveis de cultura. Muitos pensam que a adesão das crianças ao fascínio da telinha é suficiente para lhes assegurar o futuro. Computador na escola, computador em casa. A relação binomial de pais e filhos vai sendo esgarçada, o que pode perfeitamente provocar o que o ex-ministro Eduardo Portella chamou apropriadamente de “anorexia cultural”. Quando determinados sistemas educacionais compram 58 milhões de reais de computadores e nenhum livro, durante um ano inteiro, isso é revelador de uma incúria que não pode dar bons resultados. Deve existir uma perfeita harmonia entre educação e cultura, para que se alcance a qualidade desejada no ensino.


Jornal do Commercio (RJ), 21/12/2009

Jornal do Commercio (RJ),, 21/12/2009