Para o jurista Ives Gandra Martins, na solenidade de posse do professor Paulo Nathanael Pereira de Souza, na Academia Brasileira de Filosofia, “é de se ressaltar, na sua personalidade, aspectos que sempre admirei: filósofo, poeta e pater familiae. Paulo Nathanael sempre foi dotado da visão abrangente da filosofia como ciência do saber e do especular sobre as razões últimas da existência... Preparou gerações de jovens não só para a profissão, mas para a vida, tendo sido um dos idealizadores e presidente, desde muitos anos, da mais importante ONG nacional de preparação e colocação de estagiários no mercado de trabalho, ou seja, o CIEE.”
Foram vários os estamentos da minha vida em que estive próximo de Paulo Nathanael Pereira de Souza. Há mais de 30 anos, visitei-o em São Paulo, quando presidia o Cenafor, que era um importante esforço governamental no sentido de valorizar o ensino profissional. Uma necessidade ainda existe até hoje.
As qualidades de filósofo cresceram, no educador paulista, quando esteve por mais de 10 anos no Conselho Federal de Educação, que presidiu com grande senso de equilíbrio e competência. Era uma época bem distinta da atual, quando o que fazia a diferença, nas escolas superiores brasileiras, era a qualidade notável dos mestres, que não eram especializados só em determinadas matérias, mas podiam responder a questões vitais, como só os sábios podem fazer. Foi assim que Paulo Nathanael compôs a sua personalidade e adquiriu renome nacional.
Mais recentemente, fui reencontrá-lo à frente do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), em termos nacionais. O entusiasmo de Paulo fazia parecer um jovem em início de carreira, como uma vez comentou comigo Luiz Gonzaga Bertelli. A entidade filantrópica é uma das mais conceituadas no terceiro setor brasileiro, hoje com 45 anos de existência, e um acervo de quase 9 milhões de estagiários. O que mais apreciei no comando de Paulo Nathanael foi a convicção de que se estava produzindo algo de grande expressão cultural para o País. Alunos que, com a experiência adquirida nos estágios oficializados, teriam condições excepcionais de entrar com o pé direito no mercado de trabalho.
É o passado de um grande homem? Não, é a expectativa do muito que ele ainda poderá fazer, agora como membro da Academia Nacional de Filosofia, onde entra saudado por outra figura notável da vida nacional: Ives Gandra Martins, nosso maior advogado tributarista. Vejo numa hipotética bola de cristal que o futuro reserva muitas glórias para Paulo Nathanael Pereira de Souza, que se encontra em plena forma – e com a experiência que só os anos de trabalho trazem.
Alguém poderá argumentar que ele é muito mais educador do que filósofo, mas aí se suscita uma questão de difícil resposta: onde ficam os limites da educação e os da filosofia? Sendo esta a busca da verdade, pode-se inquirir se haverá processo educativo sem que essa premissa esteja presente? Daí a harmonia dos termos e a lembrança de grandes nomes, como Sócrates, Platão e Aristóteles, modelo de filósofos gregos, que não deixaram jamais de ser também educadores. Para ficar em Platão: ele tinha orgulho da sua condição de filósofo, mas igual sentimento quando alguém se referia ao fato de ser um excelente matemático. É famosa a sua frase, na entrada da Academia: “Aqui só entra quem for geômetra”. Paulo Nathanael é a soma de todas as riquezas culturais aqui expostas.
Jornal do Commercio (RJ), 20/11/2009