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O fio da navalha

 

Uma curiosidade gráfica e histórica está ocorrendo nos eventos sobre os 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial. Geralmente, ou quase obrigatoriamente, o logotipo de uma guerra, seja ela qual for, é dado pelos vencedores, ou pelo vencedor. Foi assim com as conquistas de Alexandre, de César, da formação dos vastos reinos e impérios. Ao vencedor tudo, inclusive nome e efígie. Aos derrotados nada.


Com o último conflito mundial está se dando o contrário, e não somente agora, por causa do aniversário redondo. No subconsciente da humanidade, os nomes que ficaram como símbolos da guerra foram os derrotados Hitler e Mussolini, evidente que respeitando-se a importância do primeiro sobre o segundo.


Basta a cara de Hitler, com sua franjinha na testa e seu bigode chapliniano, e logo nos vem a ideia da pior guerra da história, a mais cruel e a que gerou mais subprodutos, como o Holocausto.


Os cadernos e matérias midiáticas que lembram o ano de 1945 são condensados nas duas figuras ditatoriais, juntas num carro ou numa parada, ou separados em seus respectivos fronts.


Sim, também aparecem, em tamanho e importância menores, as fotos de Roosevelt, de Churchill e de Stálin, o primeiro sendo substituído por Truman já no final da guerra. Mas os vencedores funcionam como vinhetas gráficas para ilustrar o principal, que é a cara de Hitler, fazendo a saudação nazista, ou a suástica, que é a sua logomarca exclusiva.


Não há imagem famosa de Napoleão derrotado: sobram os momentos de glória em Marengo e Austerlitz. Por que aconteceu o contrário, o vencido mais exposto do que o vencedor?


Alguma coisa ainda precisará ser dita sobre uma guerra que colocou a humanidade no fio da navalha entre a civilização e a barbárie?


Folha de S. Paulo, 8/9/2009