Não posso e nem devo me filiar à corrente dos descrentes na reforma da Educação brasileira. Vira e mexe, surgem novidades, nem sempre auspiciosas, como aconteceu com a Lei nº 5.692/71, que tornou o ensino médio profissionalizante obrigatório. As Escolas estavam despreparadas. Foi um fiasco.
Anuncia-se um novo modelo, com a tentativa do MEC (muito válida) de tornar o ensino médio mais atraente. Há uma explicação: na faixa etária dos 15 aos 17 anos, menos de 50% dos jovens frequentam as Escolas, com um visível desinteresse.
Falta de atrativo, a razão principal.
O Conselho Nacional de Educação (relator: Francisco Cordão) aprovou por unanimidade uma série de medidas de grande alcance, que devem ser saudadas com muita esperança. A carga horária aumenta de 800 horas anuais para mil horas, totalizando 3 mil horas durante todo o curso, o que está no nível dos países desenvolvidos. E os currículos ganharão uma dimensão de atualidade, com a implantação dos chamados eixos interdisciplinares.
Novidade? Posso testemunhar que, há 50 anos, quando foi criado o Colégio de Aplicação (CAP) da Uerj (fui o seu primeiro professor de desenho geométrico), a grade se compunha de uma expressão que marcou aquela geração de educadores: atividades integradoras. Comentava-se, então, que disciplinas estanques não levam a bons resultados, pois o conhecimento é uno e indivisível. O resultado é que o CAP passou a brilhar no panorama da Educação fluminense, com os seus alunos tirando 1º lugar em tudo o que era avaliação, inclusive o vestibular. Se essa orientação tivesse sido acompanhada por outras Escolas (ou todas as Escolas), certamente o Rio de Janeiro estaria numa situação qualitativa muito melhor.
Insistimos no modelo estanque. O professor de português não conversa com o de matemática, e assim sucessivamente. Agora, busca-se essa integração, sem a eliminação de matérias, como chegou a ser anunciado, mas com o nascimento do TTCC (eixos do Trabalho, Tecnologia, Ciência e Cultura). O que isso significa? As aulas se tornarão mais criativas, haverá atividades culturais, esportivas, de preparação para o trabalho e de participação social dos alunos, numa carga horária ampliada e que, possivelmente, passará a abranger também os sábados, como é comum em tantos países. E se aqui houver menos feriados, ainda, já imaginaram como tudo iria melhorar? Aliás, feriados e dias enforcados.
Sem contar as potencialitico lidades da Educação à distância, ainda ausente do ensino médio, as inovações do MEC contemplam a valorização da capacidade de leitura e a flexibilização da carga horária. Vinte por cento da grade curricular serão opcionais, ou seja, os alunos é que escolherão o que desejam fazer, de acordo com os seus interesses futuros. A ideia de tornar o sistema bem mais flexível é muito boa e merece os nossos louvores. A implementação é que precisa ser bem feita, e aí entra a colaboração das Secretarias Estaduais de Educação, que são responsáveis legais pela condução da Educação média. Esperamos que haja um bom entendimento em todos os níveis.
Jornal do Commercio (RJ), 4/9/2009