1) Políticos de todos os partidos pretendem aprimorar o regime, o que é salutar para os políticos e para o regime. Com o regime aprimorado, teremos horizontes menos sombrios e é possível que até o Senado deixe de ser tão trágico.
2) Agora, o que é trágico não é o tango, é a cara do argentino ouvindo o tango. Há tempos vi um velhinho chorando naquela rua da Boca onde foi colocada uma placa com os versos de Caminito (“Caminito que el tiempo ha borrado...”). O velhinho chorava lembrando tempos passados e noites de lua borradas – a Lua inspira tangos e tangentes.
3) Tangente de tango é tanga – eis a frase que o professor Higgins devia ensinar a Elisa Doolitle naquela cena de My Fair Lady. Tangente de tango é tanga funcionaria mais fácil do que o “Rei de Roma ruma a Madri”.
4) Barão assinalado que se preze deve ter um cão e uma mulher infiel para justificar o final de um drama. O barão surpreende a mulher prevaricando com o duque e diz, pensando no cão: “Não passas de uma vil cadela, oh!”
5) Oh!
6) E imaginemos, antes do fim, o próprio fim. Que faria antes do fim? Rezaria pedindo perdão para os meus pecados? Continuaria a fazer o que estava fazendo, como recomendam os ascetas? Acho que berraria animalescamente no meio de outros que berrariam mais alto. Mas eu gritaria mais fundo e longamente, na verdade já estou gritando há muito e aos poucos me habituando ao grito e ao fim.
7) Pelo amor de Deus, a frase “Navegar é preciso” não é de Fernando Pessoa nem de Caetano Veloso. É de Pompeu, que perdeu para César, em Farsália.
8) Vim, não vi e não venci.
9) O duque citado aí em cima não tem nada a ver com o Paulo Duque.
10) Novamente, e com razão maior e final: “Oh!”
Folha de S. Paulo, 25/8/2009