Adeus, Eduardo
Não direi de minha amizade por Eduardo Portella. Não encontro forças, abalado pela sua partida. Direi apenas do crítico, do pensador, que vivo permanece, como um dos maiores poetas do ensaio em língua portuguesa.
Não direi de minha amizade por Eduardo Portella. Não encontro forças, abalado pela sua partida. Direi apenas do crítico, do pensador, que vivo permanece, como um dos maiores poetas do ensaio em língua portuguesa.
As taxas de homicídio, praticados dentro e fora dos presídios, nos conferem medalha de ouro (falso) na olimpíada da criminalidade.
Falamos, o tempo todo, em presidencialismo de coalizão. Promessa enganosa ou desculpa inútil. Na prática política cotidiana o que se observa é o choque, ou a mera barganha, o conflito de interesses menores ou ambições maiores. A essa contracena inóspita se deve chamar de presidencialismo de colisão, sustentado pela democracia de consumo.
Darcy Ribeiro (Montes Claros, MG, 26 de outubro de 1922-Brasília, DF, 17 de fevereiro de 1997) foi o menos convencional, e talvez o mais destemido, dos nossos intelectuais. Lutou energicamente em várias frentes. Como antropólogo, professor, político, escritor de perfil plural, ensaísta, romancista, poeta, memorialista. Foi igualmente um bem-sucedido gestor cultural e educacional. Jamais pode ser visto como um conformado. Pertencia à família, não muito numerosa, dos militantes da esperança.
Estamos vivendo uma eleição sob todos os aspectos relevante, mas cuja agenda passou ao largo de uma democracia de opiniões
Os governantes, em geral despreparados, continuam convencidos de que tudo podem. É quando o poder se torna obra de "ficção"TODOS MAIS ou menos sabem o que o poder pode. Poucos, o que o poder não pode.Não pode, por exemplo, subtrair, privilegiar uns em detrimento de outros, falsificar resultados, divulgar estatísticas fantasiosas, privatizar o espaço público, deixar de fora esses pré-requisitos. Ao cultuar a auto-estima excessiva ou o despreparo exagerado, ele habita feliz a sua ilha de fantasias.
O intelectual vem perdendo audiência e credibilidade. Sua cotação na Bolsa de Valores, e até na dos "amores", nunca foi tão baixa
Mais uma eleição com tudo o que ela, em si mesma, contém de significativo. E isso deve ser levado em consideração. Não se pode dizer que venha a constituir substancial avanço qualitativo da vida democrática. De modo nenhum. O que se observa, sem muito esforço, é antes a impugnação do trabalho político em favor dos respectivos arranjos eleitorais. A prometida reforma política continua sendo adiada, os partidos de aluguel prosperam, os baixos níveis de legitimidade nunca se alteram. Uma unanimidade contudo se mantém de pé, nacional e internacionalmente: somos medalha de ouro na olimpíada da desigualdade social. Sem levar muito em conta que jamais haverá redistribuição de renda sem distribuição equânime do poder político.
A comunidade acadêmica e a sociedade acompanham atentamente o debate sobre o problema da universidade brasileira hoje. Regimes de parceria e de negociação se impõem a todo instante. Estou certo de que a discussão dos nossos dias se destina não tanto a passar a limpo os desvios do percurso, porém a elaborar conjuntamente um manual de ação, matizado, conseqüente, timbrado urgente, urgentíssimo.
Os que apostaram na transitoriedade da obra de Gilberto Freyre fizeram um mal negócio crítico. As reedições dos seus livros clássicos, e as edições quase inesperadas de textos inéditos ou talvez extraviados, apontam em direção oposta. Agora mesmo a Global Editora vem de lançar, em cuidadoso volume comemorativo dos seus 70 anos, nova edição do Casa-grande & senzala. A Editora da Universidade de Brasília, com a Imprensa Oficial de São Paulo, também entrega ao público de Gilberto Freyre quatro volumes certamente inesperados: Palavras repatriadas, China tropical, Americanidade e latinidade da América Latina e outros textos afins, e Três histórias mais ou menos inventadas. Eles foram reunidos e anotados por ninguém mais, ninguém menos, do que o qualificado gilbertiano Edison Nery da Fonseca. O quarto volume, de narrativas provavelmente desconhecidas, conta com inteligentes prefácio e posfácio do poeta e ensaísta César Leal.
Pude ver o nascimento intelectual de José Guilherme Merquior (1941-1991) nos idos do Jornal do Brasil, quando ele já era precocemente bem aparelhado e perceptivo. Hoje se diria esperto e antenado. A partir daí, ele foi construindo uma obra crítica de importância exemplar.
A obra de Jorge Amado remonta àquele tempo de “gestação de cidades”, tão precisamente reconstituído em O menino Grapiúna, até chegar ao impasse urbano, quando “a liberdade, a invenção e o sonho”, antigas legendas plebiscitárias, parecem agonizar, enredadas no cortejo dissoluto da modernidade.
O novo livro de Merval Pereira, “Mensalão” (Editora Record) — que será lançado na Livraria da Travessa do Shopping Leblon na terça, dia 26, às 19h —, é um manual de cidadania, destinado a todos os que, embora diante de uma democracia moralmente agonizante, resistem e apostam no amanhã. Porque, em meio aos destroços de um cotidiano politicamente enfermo, ainda é possível identificar saídas recuperadoras. Não por intermédio da mera reciclagem do lixo, mas pela restauração, pela reoxigenação de verdades nas quais continuam a acreditar o homem, o indivíduo social, os verdadeiros cidadãos, a insubstituível Justiça, o Estado de Direito. Aqui se escreve a história transparente do espantoso delito praticado contra os bons costumes democráticos. Aqui aparecem, à luz do dia, “tenebrosas transações” que se escondiam na escuridão da noite dos negócios partidários.
Começamos a ingressar, com a dose combinada de inércia e descrença, em um clima de final de Copa. Onde estamos, aonde vamos? Quem ganhou? É o delírio finalista formatando a compreensão da história.