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Artigos

  • Sem medo de viver

    O homem moderno quis, com o passar dos anos, eliminar as incertezas e dúvidas de sua vida. Agindo desta maneira, ele acabou deixando que sua alma morresse de fome, já que o espírito do ser humano se alimenta de mistérios. Não tenha medo de ser chamado de louco e faça hoje, ou agora mesmo, se possível, alguma coisa que não combine inteiramente com a lógica de tudo o que você aprendeu ao longo da sua vida. Esta pequena coisa, por menor que seja, pode abrir para você as portas para uma grande aventura, tanto humana quanto espiritual.

  • Hábitos e iluminação

    Numa cidade da Espanha, existe uma antiga ermida escavada na rocha, onde vive, há alguns anos, um homem que se dedica à contemplação. Fui procurá-lo. Depois de dividir um pedaço de pão, pediu que o acompanhasse até um riacho para colher alguns cogumelos. No caminho, um jovem se aproximou. “Santo homem, tenho escutado dizer que, para atingir a iluminação, não devemos comer carne. É verdade?”, perguntou o jovem. “Aceite com alegria tudo o que a vida lhe oferece. Não pecarás contra o espírito, mas não blasfemarás contra a generosidade da terra”, respondeu.

  • Regras dos guerreiros

    Os livros de Castañeda, que foram muito lidos pela geração hippie, nos falam do comportamento que um Guerreiro da Luz precisa ter diante da vida. Abaixo, uma síntese das regras: Guerreiros sempre escolhem o campo da batalha; um Guerreiro relaxa, para que os Poderes Superiores ajam durante a luta; um Guerreiro confrontado com o desconhecido retrai-se por algum tempo; nunca se acovarda; um Guerreiro sabe improvisar. Os Guerreiros só pensam em uma coisa: sua liberdade. Morrer, ou ser vencido, não tem importância. Um Guerreiro se arrisca.

  • O tijolo que faltava

    Durante uma viagem, recebi um fax de minha secretária: “Falta um tijolo de vidro para a reforma da cozinha”, dizia ela. “Envio o projeto original e o projeto que o pedreiro usará para compensar a falta”. De um lado, havia o desejo de minha mulher: fileiras de tijolos de vidro. Do outro lado, o projeto que resolvia a falta de um tijolo: um quebra-cabeças, em que os quadrados de vidro se misturavam. “Comprem o tijolo que falta”, escreveu minha mulher. E o desenho original foi mantido. Quantas vezes, pela falta de um tijolo, deturpamos o projeto original de nossas vidas?

  • Ouro

    Um homem ouviu falar que um alquimista perdera uma famosa pedra filosofal, que tinha o dom de transformar em ouro todo metal que tocava. Como não sabia exatamente o aspecto da pedra filosofal, o homem começou a pegar todos os seixos que encontrava pelo caminho, colocando-os em contato com a fivela de seu cinto. Assim, caminhava por todo lugar, testando um seixo atrás do outro. Certa noite, antes de dormir, deu-se conta de que a fivela de seu cinto havia se transformado em ouro! Mas, qual das pedras que encontrou naquele dia tinha sido? O que começou como uma aventura transformou-se numa obrigação aborrecida. Percorrera o caminho certo, e deixara de prestar atenção ao milagre que o esperava, obcecado por fazer fortuna.

  • O bom professor

    O sábio Confúcio estava meditando à sombra de uma árvore quando foi interrompido por alguns de seus discípulos, que queriam lhe fazer perguntas. “O que é um bom professor?”, questionaram eles. Confúcio respondeu: “O bom professor é o que examina tudo aquilo o que ensina para seus alunos. As idéias antigas não podem escravizar o pensamento do homem, porque elas se adaptam e ganham novas formas. Então, tomemos a riqueza filosófica do passado, sem jamais perder de vista os novos desafios que o mundo presente nos propõe”.

  • Tipos de prisão

    Dois ex-presos políticos argentinos se encontraram, já de volta ao país, depois de muitos anos sem qualquer contato entre eles. Os dois sentaram-se num bar na Avenida de Maio e começaram a se lembrar dos anos negros que viveram na repressão, quando as pessoas sumiam sem deixar qualquer vestígio. A conversa fluía bem quando, em certa altura , um perguntou ao outro: “Por quanto tempo você ficou preso?”. “Dois anos”, respondeu o homem acomodado do outro lado da mesa. E continuou contando. “Eu sofri torturas que nunca imaginara que acontecia antes. Vi minha mulher sendo violentada na minha frente. Mas os responsáveis já foram presos e condenados. Isso é o que importa para mim”. “Ótimo. E sua alma já perdoou também?”, insistiu na conversa o primeiro. “Claro que não”, replicou o outro, de forma bastante veemente. “então você continua prisioneiro deles”, respondeu o amigo.

  • A casa de Cocteau

    Um jornalista me contou a seguinte história curiosa: “Certo dia, fui entrevistar Jean Cocteau. Sua casa era um amontoado de bibelôs, quadros, desenhos de artistas famosos, livros. Uma porção de tudo isso junto por lá. Cocteau guardava todos aqueles objetos, e tinha um profundo amor por cada uma daquelas coisas. No meio da entrevista, fiz a seguinte pergunta: ‘Me diga com sinceridade, Cocteau. Se por acaso esta casa começasse a pegar fogo agora e você só pudesse levar uma coisa com você, o que escolheria?’. Cocteau respondeu no ato: ‘Levaria o fogo’.”

  • Combates perdidos

    Muitas vezes, o Guerreiro da Luz sente a espada do inimigo na carne, sente a injustiça do inimigo na vida. Mas ele sabe que o tempo cicatriza as feridas. Quando o combate não é favorável, os Guerreiros da Luz sabem que existe apenas uma coisa que o tempo não pode curar: o ódio. O ódio é um Mestre das Trevas, jamais anda sozinho, adora a companhia de sua noiva, a vingança. Quando o ódio e a vingança sentam à mesa do Guerreiro e começam a aconselhá-lo, o combate está perdido. Porque o Guerreiro esquecerá a verdadeira razão de sua luta.

  • Um reino e a felicidade

    Um velho ermitão foi convidado para ir até a corte do rei mais poderoso daquela época. “Eu invejo um homem santo, que se contenta com tão pouco”, disse o rei para ele. “Eu invejo Vossa Majestade, que se contenta com menos que eu”, respondeu o ermitão. “Como você me diz isto, se todo este país me pertence?”, disse o rei, ofendido. “Justamente”, falou o ermitão. “Tenho a música das esferas celestes, tenho os rios e as montanhas do mundo inteiro, tenho a Lua e o Sol, porque tenho Deus na minha alma. Vossa Majestade tem apenas este reino”.

  • Milagres

    Nenhuma religião consegue sobreviver apoiada só em milagres. Os milagres podem ser o começo de tudo, mas a natureza humana logo se acostuma com o sobrenatural e passa a tratá-lo de maneira displicente, como se fosse uma coisa comum. A busca espiritual, esta sim, sobrevive porque existem pessoas muito capazes de se aventurar no desconhecido. Claro que, além de muita coragem, é preciso ter paciência para escutar comentários irônicos daqueles que acham que a razão é capaz de resolver todos os problemas do universo. Certa vez, um produtor que trabalhava na TV BBC procurou o franciscano Agnellus Andrew, exigindo uma prova de existência do Céu e do Inferno. A resposta do padre veio curta e direta: “Basta morrer”.

  • Sobre o velhinho

    Em um lugar que fica entre a França e a Espanha existe uma cadeia de montanhas. E é exatamente nesta cadeia de montanhas que fica uma aldeia chamada Argeles. E é nesta aldeia que existe uma ladeira que leva até o vale. Todas as tardes, um velho sobe e desce a ladeira. Quando fui para Argeles pela primeira vez, não reparei nisso. Já, da segunda vez, vi que um homem sempre cruzava comigo. E, cada vez que eu ia àquela aldeia, reparava mais e mais detalhes nele – a roupa, a boina, a bengala, os óculos. Hoje em dia, sempre que eu me lembro da cidade, também penso naquele velhinho - embora ele não saiba disto. Uma única vez tive a oportunidade de conversar com ele. Querendo fazer uma brincadeira com aquele senhor, perguntei: “Será que Deus vive nestas lindas montanhas que estão todas a nossa volta?”. “Deus vive”, disse o velhinho para mim, “exatamente nos lugares onde deixam Ele entrar”.

  • O mundo espiritual

    Um discípulo comentou com o rabino Bouhnam de Passiskhe: “O mundo material parece sufocar o espiritual”. E Bouhman explicou: “Sua calça tem dois bolsos. Escreva no direito ‘o mundo foi criado só para mim’ e no esquerdo, ‘não sou nada além de cinzas’. Divida seu dinheiro. Quando encontrar uma situação de miséria, lembre-se de que o mundo existe para você usar sua bondade e o dinheiro do bolso direito. Quando quiser adquirir coisas que não fazem falta, lembre-se do que está escrito no bolso esquerdo. Assim, o mundo material nunca sufocará espiritual”.

  • Esperança, iluminação

    Estou viajando de carro pela França com Moebius, um dos mais famosos desenhistas de quadrinhos do mundo e responsável pelas ilustrações de “O alquimista”. Chove, e ele aproveita para desenhar nos vidros embaçados. “Em certas ocasiões”, começa a dizer Moebius, “o pessimismo pode ser uma grande força de transformação. De tanto enxergar o lado escuro da vida, as pessoas acabam no fundo do poço. Mas, no meio da escuridão total, algo de tranqüilizador acontece a elas”. E ele continua: “Já que as pessoas sabem que não podem descer para baixo, só lhes resta uma alternativa: começar a subir de volta. Então os valores mudam, a esperança renasce e o caminho de volta é feito com sabedoria”. Creio que é um processo em que os riscos envolvidos são exatamente grandes. Se vislumbrarmos a luz, é melhor largar tudo e segui-la. Mas Moebius pensa diferente, e eu resolvi registrar sua opinião aqui.