Conversas de ½ Minuto (34) ‒ Conversas de Portugal
Mais conversas, hoje só da terrinha, em livro que estou escrevendo (título da coluna)
Mais conversas, hoje só da terrinha, em livro que estou escrevendo (título da coluna)
"O que há num nome?", se pergunta Shakespeare (em Romeu e Julieta). Porque, nesse nome, pode haver tudo e nada, amor e perdição, liberdade, sonho, mistério, miséria, Destino, tragédia, o espanto. E por trás dele sobrevivem, com frequência, todas as contradições da alma humana.
Está circulando a ideia de formar nova Comissão Nacional da Verdade. Com algum outro nome, talvez. Antes de prosperar, seria bom ver que precederam a brasileira, no mundo, outras 40 comissões semelhantes. Mais notória sendo a da África do Sul, criada em 1994 por Nelson Mandela e sob direção de Desmond Tutu ‒ um arcebispo da Igreja Anglicana que foi prêmio Nobel da Paz dez anos antes. Com diferenças, entre essas e a nossa.
O melhor, para quem escreve, é merecer resposta dos leitores. Segue uma prova. Na primeira coluna depois das férias (Ainda Bem), contei a história de notícia, no zap, sobre minha morte. E os amigos comentaram. A ver, alguns (entre muitos) deles:
De volta às conversas, hoje só no assunto cemitérios e afins, em livro que estou escrevendo.
Luís Vaz de Camões veio da pequena nobreza – assim se dizia, na época, dos nobres sem casas nem títulos em Portugal. Desde jovem, passava dias e noites pelas ruas entre pedintes, arruaceiros, prostitutas, desvalidos. Ou nas tabernas. E escrevendo versos, quando possível, às vezes em troca de gorjeta. Ou comida.
Volto a escrever no JC depois de férias. E já digo qual a notícia que mais me preocupou, durante esse tempo em que andei longe das folhas ‒ a da minha morte.
Lisboa. Não está bem, todos vêem. Sigamos no relato de seu fim.
Um adeus diferente dos de todo dia, esse era verdadeiramente definitivo. Então lhe dei um beijo na testa e fui para casa. Na mesma noite, redigi o testamento. Hélio Coutinho, tabelião, lavrou no livro dia seguinte.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu no começo deste mês, ao tratar do tema Linguagem Neutra, que sua adoção "alteraria a estrutura do português que aqui se fala". A conclusão foi de que ""trata-se de um fenômeno ainda incipiente", no Brasil de hoje, e "só pessoas ligadas ao núcleo em que nasceu usam" tal linguagem.
Decidiu ir a São Paulo e junta, com mais quatro médicos, confirmou esse diagnóstico. Melhor voltar e morrer no Recife. Só que não conseguia suportar essa espera e decidiu abreviar sua história. Melhor o fim do espanto que um espanto sem fim.
Voltamos, ao Brasil, depois dessa última decisão monocrática do ministro Toffoli de anular todos os julgamentos do Petrolão. Pensei escrever artigo com título em homenagem ao livro de Ruben Fonseca, "A Grande Arte da Corrupção". Ou alguma variável como "A Corrupção Venceu", "Viva a Corrupção", "Ah! Que Delícia de Corrupção" (mais um ponto de ironia que ainda não foi inventado). Para examinar os argumentos desse advogado do PT que virou ministro pelas mãos do hoje Presidente da República, a quem serviu como Advogado Geral da União. E do silêncio cúmplice de seus 10 colegas no Supremo que estão calados e, aparentemente, muitos satisfeitos.
Para tanto é preciso, antes de tudo, lembrar que nosso poeta só escrevia sobre o que estava de seu lado ‒ amigos, família, geografia da cidade, admirações literárias, mitologia, por aí. Nada, nele, era por acaso.
No prefácio à sua monumental Comédia Humana, Balzac escreveu "A acusação da imoralidade é a última que resta a fazer quando não se tem mais nada a dizer". E o que devem dizer as pessoas de bem depois da última decisão do Supremo?, eis a questão. Calar? Lembro frase atribuída ao reitor perpétuo da Universidade de Salamanca, Miguel de Unamuno, "Há momentos na vida em que que calar é mentir". Tudo menos calar, pois. Nem sair às ruas, como Balzac, denunciando a "imoralidade", talvez fosse demasiado melodramático, mesmo levando em conta esse torpor que hoje invade nossas almas.
Habeas-corpus na hora. Revisão Criminal. Quem está dentro sai fora