Em todo o mundo, há o questionamento sobre a morte de Osama Bin Laden, com opiniões obviamente contrárias. A questão é admitir a constatação de Barack Obama ("A justiça foi feita") ou classificar a operação dos americanos como um ato de vingança.
Não vem ao caso discutir os direitos humanos que Bin Laden também não respeitava quando gerenciava seus atos terroristas e desumanos. A questão fica um ponto acima, que é o da justiça propriamente dita. Olho por olho, dente por dente não é lei da justiça, mas da vingança.
Tivemos um exemplo que marcou a história, não faz tanto tempo assim. Vencido o nazismo, que provocou mais mortes e misérias do que Bin Laden, os vencedores levaram os principais líderes derrotados ao julgamento de Nuremberg. Não puderam julgar (e condenar) Hitler, Goebbels e Himmler, que se suicidaram. Tampouco puderam julgar Goering, que se matou na prisão e livrou-se do enforcamento mais do que merecido.
Mas os outros líderes foram, esses sim, justiçados, com a condenação à forca, à prisão perpétua ou a longos períodos de cárcere, de acordo com a responsabilidade de cada um.
Repito: os Aliados não se vingaram, apenas fizeram a justiça que a consciência humana e a civilização exigem.
Embora ainda não tenhamos a versão clara e definitiva do que aconteceu no Paquistão, o certo é que seria possível a captura do criminoso (desarmado) para responder por seus crimes contra a humanidade. O argumento apresentado por Barack Obama (evitar o culto e a peregrinação a seu túmulo) é pueril e inútil. Haverá este culto, mesmo sem o corpo do terrorista.
E mais: Osama Bin Laden acabou, mas o terrorismo não. As causas que o geraram continuam, acrescidas de mais um motivo: o de vingar a vingança.
Folha de São Paulo, 17/5/2011