Para o presidente Lula, as fotos e as gravações do novo mensalão de Brasília não chegam a provar nada. É uma opinião, embora digam por aí que uma imagem vale por 10 mil palavras. Além do fato em si, que seria estarrecedor não fosse razoavelmente rotineiro em nossa vida pública, há a facilidade com que são registradas as cenas de suborno.
Com a tecnologia dos novos celulares, que fotografam e gravam pequenas porções de uma realidade, é mole para qualquer um registrar cenas do cotidiano, as boas e as más. De qualquer forma, elas não são forjadas e é fácil interpretá-las. Ao contrário do que Lula disse, elas provam alguma coisa. Ou tudo.
O que me espanta é a maneira como o mensalão é pago, com maço de notas – a vil pecúnia de que fala santo Agostinho. No dia a dia de nossa vida contábil, o dinheiro em espécie é cada vez mais raro. Usam-se os cheques, os depósitos bancários, as transferências eletrônicas.
No meu caso pessoal, há mais de 30 anos que não boto mão em maços de dinheiro. Minhas fontes pagadoras – jornal, rádio, tevê, direitos autorais – depositam meus vencimentos e salários normalmente. É a regra. Dinheiro ao vivo e em cores tornou-se suspeito. Nem assim a corrupção ativa e passiva confia no sistema bancário, provavelmente porque deixa rastros. Prefere a tradicional “mala preta”, que hoje foi rebaixada à cueca e às meias.
Daí que é mais chocante a cena em que a mulher chega a uma mesa, recebe a bolada e mete tudo na bolsa. E o cidadão, que por questão de “segurança”, dobra sua largura física com tanto dinheiro que botou nos bolsos.
Se essas cenas não falam ao presidente Lula, alguma coisa deve estar errada com ele. É natural que não faça prejulgamentos, mas negar a realidade é ir além do tolerável.
Jornal do Commercio (RJ), 3/12/2009