Em um de seus filmes mais populares, Carlitos é vidraceiro e adota um menino de rua. Saem os dois para trabalhar, o garoto quebra o vidro de uma janela e foge, Carlitos aparece como por acaso, o dono da casa o chama, combinam o serviço, e o dia está ganho. Na hora do almoço, tanto o vidraceiro como o seu ajudante têm o que comer.
Lembro a cena porque estou começando a desconfiar da frequência com que os vírus eletrônicos estão fazendo estragos entre os usuários da internet.
Por acaso ou não, justamente em épocas festivas, quando todos se comunicam com mais intensidade, os vírus invadem nossas telinhas, bloqueando-as e obrigando-nos a chamar técnicos e curiosos para reinstalar programas cada vez mais complicados.
Um simples consumidor de e-mails não saberia produzir um vírus e infectar o equipamento de seus correspondentes virtuais. Os vírus têm uma hierarquia. Uns são mais devastadores, outros, mais difíceis de serem neutralizados.
Se quisesse sacanear alguém eletronicamente, não saberia criar um vírus. É possível que tenha transmitido sem saber esses micróbios de tratamento especializado.
Acredito que eles sejam produzidos por gente que domina a linguagem e o tipo de correio sofisticado que é a internet. E que muitos desses maníacos virtuais se ofereçam para excluir o câncer eletrônico, a metástase que pode destruir definitivamente nossos computadores.
Um entendido fabrica um vírus e o espalha entre conhecidos. Espera o telefonema pedindo ajuda. Cobra a visita e a instalação dos novos programas.
Como nos livrar dessa indústria artesanal? É evidente que não será colocando a polícia no meio. Mas apelando para o desenvolvimento tecnológico, que criará vacinas e tratamentos contra a peste que nos ameaça.
Folha de S. Paulo, 29/6/2010