Não há dúvida que o presidente Lula da Silva tem boa imprensa. Os jornais noticiaram que ele empreende viagem à Coréia do Sul e ao Japão, para fazer negócios da bagatela de R$ 1,5 bilhão.
Tenho suficiente experiência de promessas de políticos, de titulares de posições administrativas, de burocratas categorizados, para saber que suas promessas são o que há de mais frágil, um caniço que qualquer brisa dobra. Dizia em discurso de palanque um político, na última vez que eu o ouviu, que deve-se expor estatística, porque ninguém vai conferir depois se a promessa foi ou não cumprida.
O próprio presidente Lula já prometeu, no dia mesmo que tomou posse do primeiro cargo do Brasil, que é preciso acabar com a fome no país. Até mesmo o saudoso papa João Paulo II comentou o compromisso de Lula. Com o poder nas mãos, Lula foi a Guaribas, considerada a cidade mais pobre do Brasil. Para surpresa de todos os brasileiros, os guaribenses querem saneamento básico, água potável e outras benfeitorias, que para comer eles se arranjam.
Mas o grito do presidente, se ainda reboa, é como eco do Joaquim Bentinho, o curioso e mentiroso personagem de Cornélio Pires, o notável folclorista dos costumes de caipiras do interior paulista, de vizinhança de comerciantes árabes, sitiantes italianos e outra gente pitoresca.
Creio não exagerar pressupondo que no caso da viagem do presidente Lula à Coréia do Sul e ao Japão, que vêem algumas encomendas, provavelmente virá investimento, e fica a Coréia do Sul, que já tem aqui seus naturais em elevado número, dominando a confecção, no bairro do Brás.
Mas o presidente ganhou, como queria seu serviço de imprensa, manchetes e noticiário de sua viagem no Airbus novo para o outro lado do mundo.
De minha parte, desejo que Lula consiga trazer para o Brasil uma participação de gente tão distante de nós no desenvolvimento nacional, principalmente no Nordeste, que está precisando há mais de um século do socorro dos poderes públicos, a fim de diminuir a influência da seca na vida de milhões de habitantes daquela região.
É de se notar que Lula pára mais tempo no avião que comprou com dinheiro público e também nos países que visita, somados todos, longe do Palácio do Planalto, que, no entanto, deveria segurá-lo para as audiências, o estudo das planificações com os ministros, a fim de não ficar a administração pública somente nas mãos dos ministros, alguns completamente jejunos dos negócios da pasta que recebeu do presidente.
Mas o hábito do presidente não será mudado. O comentário, esse fica.
Diário do Comércio (São Paulo) 25/05/2005