A Sicília, como até o deputado Tiririca sabe, foi disputada durante anos entre Cartago e Roma. Era o ponto mais estratégico do Mediterrâneo, tornou-se italiana depois de algumas revoltas. Além dos limões sicilianos, que estão em moda, foi naquela ilha que nasceu a Máfia, que até hoje atua em bases parecidas com a do nosso doméstico mensalão. Giuseppe Verdi dedicou uma ópera às vésperas de uma revolta em que até um papa esteve envolvido.
Estamos também na véspera de uma decisão do STF. Um grupo (quadrilha, ou seja lá o que for) desviou fortunas e poder. Em linhas gerais, uma espécie de máfia formou-se dentro do PT, que fez o diabo com o dinheiro público e com a parte administrativa da nação.
Amanhã, o decano daquela corte desempatará o placar da Justiça, que está cinco a cinco. Aceitando os embargos infringentes pedidos pelos réus, diz ele que não se tratará de uma absolvição. Tudo certo. Não será uma absolvição, mas uma prorrogação, forma perversa da impunidade.
Pessoalmente, acredito que os culpados já foram punidos pela opinião pública, que condena a corrupção instalada nas engrenagens do poder. Ir ou não para a cadeia, em regime aberto ou fechado, pode parecer uma vingança da sociedade. Devolver o dinheiro roubado, com juros e mora, não seria uma vingança, mas um direito da nação.
Pelo rodar da carruagem e pelas circunstâncias que fazem do próximo ano um acerto de contas com o eleitorado, prorrogando-se os embargos sucessivos, discutindo-se a quadratura do círculo indefinidamente, teremos, como na Máfia tradicional, os padrinhos, poderosos ou não, que darão a mão para o beijo protocolar da plebe rude. No desenrolar do processo, as mídias e as polícias condenarão os vândalos que somos todos nós.
Folha de S. Paulo(RJ), 17/9/2013