Muita coisa acontecendo - e ao mesmo tempo. Um sinal dos tempos, um tempo que não deixa de ser chato, que não dá tempo para a gente ter tempo em pensar e se preocupar com outras coisas além do tempo.
No último fim de semana, tivemos doses que o lugar-comum chamaria de "cavalares": prisão de Paulo Maluf, entrevista do Severino, contas de Duda Mendonça no exterior, brigas no interior do PT, Robinho no Real Madri, enchente em Nova Orleans, quarto aniversário do atentado de 11 de Setembro e, para os meus lados, a vontade de torcer de agora em diante não mais pelo Fluminense, mas pela Croácia (como um todo), que nos mandou Petkovic, um craque que compensa aqueles que mandamos para fora.
Para falar a verdade, nem sei direito onde fica a Croácia, se é que ela existe mesmo. Durante anos, o romancista Campos de Carvalho e eu duvidávamos da existência da Bulgária -e duvidávamos em vão. Pensávamos que ela fosse uma invenção do Jorge Amado, que tinha livros traduzidos em búlgaro. Jorge tinha e ainda deve ter traduções em servo-croata, não tenho certeza, mas acho que o Paulo Coelho talvez não tenha chegado lá -mas chegará um dia.
Quem nunca chegará a lugar nenhum é um sujeito que prega diariamente o fim do mundo no largo da Carioca, das 9h às 14h, horário de expediente dos consulados aqui no Rio, que dão vistos para aqueles que desejam ir a algum lugar.
Tenho atração por esses pregadores de rua. Eles dizem verdades que não leio nos jornais e, quando dizem mentiras, levantam o moral dos oprimidos e criam embaraços de consciência para os opressores.
Daí concluo que é mais sensato elogiar a mentira e criticar a verdade, que tem muitos donos, tais e tantos que não merecem crédito.
Tentei escrever uma crônica sem falar em Lula, Maluf, Severino, Duda Mendonça, enchente em Nova Orleans etc. etc. Quase ia conseguindo.
Folha de São Paulo (São Paulo) 13/09/2005