O Cidade de Pinheiro, que ostenta o título de ser o jornal mais antigo do Estado, quando a 2ª Grande Guerra terminou, publicou um editorial dizendo: “Se o Sr. Adolfo Hitler tivesse ouvido nossas reiteradas advertências, feitas através de nossos editoriais, não teria mergulhado o mundo numa guerra tão tenebrosa.”
Estou citando o jornal da minha cidade para não ser pretencioso, na minha humilde função de velho jornalista de província, diante do lançamento do best-seller mundial de Michiko Kakutani, que acaba de publicar com sucesso universal um livro sobre a morte da verdade, invocando que ela foi vítima da internet.
Eu participei de uma conferência, promovida pela ONU em Bilbao, na Espanha (onde foi construído o famoso museu Guggenheim de Frank Gehry, que é considerado uma das maravilhas da arquitetura moderna), e lá participei de um painel no qual estava, também orador como eu, o Manuel Castells, que é tido como a maior autoridade na interpretação das consequências da internet na sociedade moderna.
A Conferência da ONU, para a qual fui convidado como um dos conferencistas, era preparação para o World Summit on Information Society, que ia discutir em Tunis o impacto que tiveram as novas técnicas de comunicação na privacidade do homem, nos direitos individuais e nos valores que o homem tinha construído ao longo da sua história. Minha abordagem foi justamente sobre o mundo transformado pela sociedade da comunicação, que veio depois da sociedade industrial, com a destruição dos direitos individuais, e sustentava justamente que o mais atingido de todos era a verdade, pois hoje são tantas as divulgadas por todos os meios de comunicação, jornais, mídias, redes sociais, que terminamos sem saber qual é a verdade. Já não conseguimos distinguir, já dizia eu, a verdade da mentira, porque as verdades são tantas que é impossível saber-se qual realmente é a verdade sobre qualquer fato. Abrimos os jornais, vemos a televisão, navegamos na internet, e a soma de informações que nos chegam é tão grande que não podemos estabelecer uma escala de valores para absorvê-las.
E como o Cidade de Pinheiro sobre Hitler, eu também podia dizer para Kakutani, que escreveu esse livro sobre a morte da verdade, que, se ele me tivesse ouvido naquela Conferência de Bilbao, não me teria plagiado.
De lado a brincadeira, quero dizer que o seu livro é realmente um grande livro e aborda os aspectos da verdade e da mentira baseado no twitter do Trump, de quem se descobriu que diz 15 mentiras por dia, torna-as verdades e depois se descobre que todas são mentiras, e muita gente continua a pensar que são verdades.
E, nessa análise, chegamos à conclusão de que a verdade realmente morreu mesmo, que a mentira passou a ser verdade e que nós hoje somos obrigados a tomar a mentira por verdade.
Meu espaço acabou, e tenho que terminar o artigo sobre um tema que merece de mim muita meditação. Mas, para não ficar só no presente, recordo-me do filósofo espanhol Dom Miguel de Unamuno, que dizia que a pergunta mais instigante do Novo Testamento era a de Pilatos ao Cristo: “O que é a verdade?”
O Estado do Maranhão, 12/01/2019