A narrativa do presidente Bolsonaro de que estava se referindo à segurança pessoal de seus filhos e amigos, e não à Polícia Federal, não pode ser crível. Se fosse, ele deveria ter demitido o general Heleno e o chefe da ABIN, delegado Ramagem. Nada bate com nada. O ministro Celso de Mello precisa autorizar a divulgação do vídeo, porque é preciso ver o ambiente da reunião e o contexto em que aconteceram os diálogos. O procurador-geral da República, Augusto Aras, depois de ouvir todas as testemunhas e analisar o vídeo, poderá oferecer ou não a denúncia. Mas, analisando toda a situação, juntando todas as peças desde agosto do ano passado quando Bolsonaro começou a falar em mexer na PF até agora, é impossível, pelo menos ficar com dúvida. Aras vai ter que fazer muito malabarismo para justificar um arquivamento. Acredito que não vá encontrar apoio entre os procuradores para arquivar. Aberto o inquérito, a Câmara precisa aprovar que o presidente seja julgado e, assim, afastado do cargo, até que o STF dê a palavra final. Neste tempo, o general Mourão assume a presidência. Por isso, Bolsonaro já começou as negociações com o Centrão, ameaçando até mudar a política econômica, perder o Paulo Guedes para não perder o cargo. E teremos outra grande crise política.