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Vaquinha contra os mosquitos

 

Não estava em Davos na semana passada e, além de ter perdido o discurso de Lula, que sempre se sai bem quando está diante de poderosos, perdi a oportunidade de participar da vaquinha que a atriz Sharon Stone promoveu para comprar mosquiteiros destinados à Tanzânia.


Diria que a vaquinha foi "pingue", palavra em desuso e que parece significar abundante, proveitosa ou coisa parecida. Os mosquitos da Tanzânia não sabem o que os espera, graças ao nobre gesto da atriz, que comoveu a platéia e arrancou uma boa grana para combater uma carência não de mosquitos, mas de mosquiteiros.


Nada parecido ocorreu em Porto Alegre, onde o arroubo dos participantes foi apenas retórico, conceitual, não ameaçou um mosquito, uma mosca sequer. Mas ameaçou os países ricos, o capital opressor, os depredadores da ecologia, os genocidas de minorias, o latifúndio, a degradação cultural promovida pela decadente cultura do Primeiro Mundo.


Perdi também a oportunidade de ver em carne e osso a bela Sharon Stone, da qual vi parte importante de sua anatomia, mas em filme, e num relance que durou o tempo de um descruzar de pernas.


Nada tenho contra o foro dos ricos e dos pobres. O ideal seria que houvesse um terceiro foro que juntasse no mesmo convescote ricos e pobres. Nesse particular, louvor e glória a Lula e ao presidente da Tanzânia, que levaram para Davos a voz dos oprimidos e escancararam a verdade de que milhões de criancinhas morrem de fome em todo o mundo. E que no país africano não se tem direito ao sono reparador por causa dos mosquitos, que, de quebra, além de atrapalhar o sono, contaminam os insones com diversos tipos de doença.


Torço para que um dia a Sharon Stone faça uma vaquinha para acabar com a mortandade dos peixes aqui na Lagoa. E descruze novamente as pernas para deleite de todos os carentes, entre os quais me incluo.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 01/02/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 01/02/2005