NOVA YORK - Pela primeira vez chego aos EUA - para o lançamento do meu romance Saraminda aqui e participar da 7ª Conferência Latino-Americana - e não encontro o costumeiro catastrofismo de sempre, comum entre gregos e troianos, sobre o Brasil e as desgraças que pesavam sobre nós. As perguntas que nos fazem, hoje, são diferentes de outrora, e falam surpresos sobre os bons ventos da economia, a profundidade da liderança do presidente Lula e a tranqüilidade social, sem riscos de ruptura institucional, em contraste com o que ocorre com outros países da América do Sul.
Ressalto os nossos números macroeconômicos. Há cinco anos, temos transações correntes positivas com o exterior, nossa dívida pública externa é de US$ 70 bilhões, valor largamente coberto por uma reserva de US$ 170 bilhões.
Num momento em que energia é a grande palavra e interrogação sobre o futuro da sociedade industrial, nosso país é auto-suficiente, sendo que mais de 80% do que consumimos é de fonte renovável. Temos 90% do abastecimento próprio de nosso petróleo e, com a descoberta do campo gigante do Tupi, na Bacia de Santos, passaremos a ser exportadores. Outro trunfo que ainda podemos ter em petróleo é que 90% das nossas bacias sedimentares acumuladoras de hidrocarbonetos ainda não foram pesquisadas. Cito a de Barreirinhas, de grande extensão, que vai da foz do Rio Parnaíba até o Cabo Norte, na costa do Amapá.
Temos 300 milhões de hectares agriculturáveis, dos quais já 70 milhões são plantados para produção de grãos, o que nos assegura uma liderança mundial nesse setor. Com grande rebanho e maiores exportadores de carne, já utilizamos 90 milhões de hectares em pasto e 120 milhões de hectares de pastagens naturais poderão ser aproveitados para oleaginosas, matéria-prima do nosso ambicioso programa de biodiesel e etanol.
Quando me falam do milagre chinês, coloco um pouco de brasa na nossa sardinha, chamando a atenção de que o Brasil tem 1/6 da população da China, mas já ostenta a metade do PIB chinês.
Nossa taxa de juros, calcanhar- de-aquiles, está declinante, chegando a 11,25%, e a perspectiva para os próximos anos é de 4% a 5% de juros reais, com uma inflação decrescente e baixa, estabilizada na casa dos 3%. Nossas instituições políticas estão sólidas, cada vez mais aprofundamos a democracia e o risco Brasil caiu dramaticamente nos últimos anos, gerando confiança confirmada nos investimentos externos.
Mas como nem tudo são flores, continuamos engasgados com a reforma política, a corrupção e a tragédia da segurança.
Jornal do Brasil (RJ) 30/11/2007