Ainda repercute a morte da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, de 45 anos, assassinada pelo ex-marido com 16 facadas diante de suas três filhas, de idades entre 7 e 9 anos, na véspera do Natal. O crime, hediondo, praticado com requintes de crueldade, provocou um movimento de repúdio encabeçado por manifesto assinado por centenas de juízas. Só no dia de Natal foram registrados seis feminicídios no Brasil.
Um dos colegas de magistratura de Viviane acaba de publicar um livro que trata do tema: “Sobre ela: uma história de violência”. O desembargador Wagner Cinelli, do Tribunal de Justiça do Rio, recorre à justiça, à sociologia, à antropologia, à música, à literatura e ao cinema para abordar a violência contra a mulher cometida por maridos e ex-companheiros. Ele mostra a evolução das leis, das políticas públicas e aborda questões como: “O que leva o parceiro a transformar a amada em sua vítima contumaz? Como pode o lar, que deveria ser um ambiente seguro, se tornar lugar de tormenta e medo? Por que tantas dessas vítimas insistem na manutenção do vínculo afetivo com seu agressor?”. Com prefácio da juíza Andréa Pachá, a obra mostra que, para quebrar o ciclo de violência, é preciso falar sobre ela. Nas escolas, nas universidades, nas instituições, na cultura, na política, em todas as esferas.
A escolha da arma não foi aleatória. Como ela não mata de uma vez, a não ser quando atinge o coração, o que não foi o caso, a vítima sofre por mais tempo, o que aumenta o prazer sádico do monstro. Testemunhas disseram que ele permaneceu insensível aos gritos das filhas pedindo para que parasse. Viviane caída, morta, ainda foi golpeada duas vezes.
Como se vê, é difícil o combate à violência contra a mulher. Nem sempre a causa é cultural. Às vezes é uma questão de — na falta de outro nome — eu chamaria de índole.