O colega Ivan Finotti, correspondente da Folha em Madri, abrilhantou esse espaço em meu lugar no dia 24 último com a história dos dois velhinhos espanhóis que, desde 2005, postam-se todas as noites, das 19 às 22h, diante de um endereço da Gran Via onde havia uma loja de discos de rock, substituída naquele ano por um magazine de ceroulas e cuecas. É um protesto contra o que, para eles, foi "o fim de uma era". Ivan perguntou-lhes sobre suas preferências roqueiras. Responderam "Fat Bottomed Girls" (1978), do Queen, e "Stairway to Heaven" (1971), do Led Zeppelin.
Fiquei consternado. Como o fechamento de uma loja pode representar o fim de uma era? Era a única loja de rock em Madri? E será normal que as canções de que os dois mais gostam já sejam arcaicas de, respectivamente, 45 e 52 anos? Significa que desde então, para eles, não se fez nada melhor? Donde Ivan me recomenda vencer meu suposto desapreço pelo rock e escutar aquelas faixas.
Peço licença para discrepar. Assim como os dois coroas têm a sua nostalgia particular, também tenho a minha. E, quando faço minhas playlists do gênero, vou direto ao rock and roll dos anos 1950 —que escutei na época, pelo rádio ou em discos, ou de que aprendi a gostar depois. Posso citar?
"Shake, Rattle and Roll", com Big Joe Turner. "Whole Lotta Shakin’ Goin’ On", com Jerry Lee Lewis. "Johnny B. Goode" e "Roll Over Beethoven", com Chuck Berry. "Be-Bop-A-Lula", com Gene Vincent. "La Bamba", com Ritchie Valens. "Peggy Sue", com Buddy Holly. "Blue Suede Shoes", com Carl Perkins. "Bo Diddley", com Bo Diddley. "I Put a Spell on You", com Screamin’ Jay Hawkins. E, com Little Richard, várias: "Lucille", "Tutti-Frutti", "Long Tall Sally".
Mas, para mim, bom mesmo era o The Viscounts, o primeiro grupo instrumental do rock, com "Night Train", "The Touch" e "Harlem Nocturne". Dê uma chance a esses roqueiros, Ivan.